sexta-feira, 28 de novembro de 2008

UMA VIAGEM DE COMBOIO

Numa das Revistas TABU do mês de Novembro, Vítor Rainho escreveu que “O conceito de viagem tem vindo a mudar com as alterações das políticas das companhias aéreas. Há uns anos, andar de avião era algo que as classes mais desfavorecidas, regra geral, só conseguiam visualizar em sonhos. Mesmo longas distâncias eram percorridas de comboio ou autocarro.”
Lembrei-me da primeira viagem que fiz de comboio, sozinha, para além fronteiras. Fui convidada para participar num campo internacional de trabalho numa pequena localidade da Alemanha, Nordkichen, na região da Westfália. Era jovem. Posso considerar que, naquele tempo, foi uma aventura e ainda hoje me admiro da minha coragem, até porque pouco tinha viajado dentro do nosso país. Apesar das supostas dificuldades que poderia encontrar, no dia 4 de Agosto, as 8.40 horas, parti rumo ao desconhecido, sem receios, disposta a aproveitar todas as experiências que iria viver a dois mil e tal quilómetros de casa.
Naquela viagem registei no meu diário: “ Entrámos em Espanha às 5 horas da tarde. Fiquei desiludida com este país, nosso vizinho. Desde o aspecto descuidado dos homens das estações, com as suas fardas dum verde desbotado, grandes demais, às casas cor de terra, os terrenos incultos, tudo com um ar de abandono. Não me podia mexer para não incomodar o meu companheiro do lado que dormia. Passámos a noite a atravessar a Espanha, no comboio que parecia não andar a mais de 10 km à hora. Quando se fez dia, vi uma Espanha diferente. A paisagem era linda, muito verde, e já podíamos ver os Pirinéus, com a sua beleza imponente, parecendo que a qualquer momento se poderiam despenhar sobre o pequeno comboio que nos levava. Passámos muitos túneis. Tomei o pequeno almoço no comboio. Que grande desilusão!... Serviram-me um café que, talvez, nem um quilo de açúcar o conseguisse adoçar, e um “croissant” pouco saboroso. Paguei 22,5 pesetas, ou sejam, 13.50 escudos. Chegámos a Hendaye às 11.30 horas. Depois de muitas voltas, sempre com as malas na mão, fomos à alfândega , mas a mim não me abriram as malas, felizmente! Ás 2,43 horas da tarde tomei outro comboio directo para Paris, moderno e confortável. Achei a França muito bonita com a sua vegetação luxuriante e salpicada aqui e além com as tendas dos campistas. Chegámos a Paris ás 23,30 horas. Passei a noite num hotel. No dia seguinte passeei pelos “boulevards” daquela linda cidade, sempre de mapa na mão para não me perder. Parti às 11,00 horas da noite da Gare do Norte rumo à Alemanha. Cheguei a Dortmund às 11,00 da manhã e apanhei outro comboio que me deixou em Nordkichen, onde me esperava o dirigente do campo de trabalho. A minha viagem terminou perto do meio-dia no dia 7 de Agosto. Até que enfim!”
Voltei a fazer outras viagens de comboio que deixavam sempre histórias para contar. Muitos anos depois, fiz duas viagens de autocarro, uma para a Suiça e outra para a Alemanha, que não me deixaram vontade de repetir a proeza.
Aquela longa primeira viagem para a Alemanha, que demorou 46 horas de comboio, fora as mudanças que tive de fazer e o tempo que esperei nas estações e em Paris, resumem-se hoje acerca de 3 horas de avião.
Agora, viajar nos comboios de alta velocidade, as grandes distâncias fazem-se em poucas horas. O conforto que oferecem aos passageiros tornam as viagens muito agradáveis. Sentimo-nos mais à vontade, podemo-nos levantar e esticar as pernas, ir até ao bar, enfim, um conjunto de mordomias que nos são proporcionadas. Mas viajar de avião, além do tempo que poupamos e embora não nos sintamos muito confortáveis, também tem os seus encantos. Há dois anos, num voo nocturno, apreciei o nascer do sol. Não tenho palavras para descrever o que senti, foi maravilhoso !!
E Vitor Rainho termina com estas palavras: “Como todos os fenómenos de moda à medida que se vão alastrando vão morrendo na origem, viajar de avião, hoje, não tem qualquer carga glamorosa, nem tão pouco representa estatuto. Os lugares são mais apertados, o serviço é quase inexistente e, como tal, fantástico é andar de avião particular.”
Isso agora já se torna mais difícil…Vamo-nos contentando com uma viagem comprada na ”net” que a vida não está para grandes aventuras.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

O QUE FARIA ...

Gosto muito de ver os programas da Oprah, na SIC Mulher. Alguns para nós não têm muito interesse, pois são mais dirigidos ao público americano, mas outros apontam casos, falam de assuntos que pela sua natureza e pelas experiências vividas por aqueles que são convidados para o programa, são realidades também da nossa sociedade. Considero a Oprah uma boa apresentadora, que vai ao âmago dos problemas, muito directa nas suas considerações, impelindo aqueles que entrevista a respostas bem concretas e decisivas.
Há uns dias atrás, o programa tinha o tema “O que faria…” Não o vi desde o início, mas o que estava em causa era o que faríamos, qual seriam as nossas reacções, se estivéssemos perante determinadas circunstâncias. Era um programa semelhante aos “Apanhados”, que todos nós conhecemos da nossa televisão. Havia actores que criavam cenas na rua, que pediam a interferência de alguém para ajudar a resolver as situações. Por exemplo: Um homem enfurecido, ofendia oralmente a mulher, ambos pessoas de cor. A maior parte das pessoas olhava, mas continuava o seu caminho, indiferente ao que via. Um homem, muito aborrecido, gritou-lhes que fossem para casa discutir, mas que não estivessem ali a incomodar quem passava. Até que, uma mulher já idosa, aproximou-se da vítima e, carinhosamente, levou-a consigo. Um outro caso, mostrava uma mãe, ainda jovem com duas crianças, seus filhos, alcoolizada e que, em grande aparato, procurava as chaves do carro que não conseguia encontrar. Depois, já com elas na mão, sempre aos tombos, mandava os filhos entrar para o carro e preparava-se para conduzir. Houve uma certa contestação por parte de quem se tinha juntado, até que um homem já idoso, tira-lhe as chaves da mão, impedindo-a de conduzir num tal estado de embriaguez. Um terceiro caso, passa-se numa padaria, onde uma mulher islâmica, que queria comprar pão, é injuriada pelo empregado que se recusa a atendê-la. A fila dos que aguardam pela sua vez vai crescendo assim como o mal-estar que se apodera das pessoas pelo tempo que estão a perder. Mas há duas jovens, de 15 e 16 anos, que, perante tal situação, reagem à atitude do empregado, manifestando a sua discordância e revolta. O dono da loja foi chamado por elas e resolveu a situação, vendendo o pão que a mulher desejava.
Estes três exemplos mostram-nos que vivemos numa sociedade onde, muitas vezes, impera a indiferença. Vivemos os dias numa correria constante, preocupados e ansiosos, sem prestarmos atenção àqueles com quem nos cruzamos, que vivem perto de nós e, em alguns casos, até são nossos familiares. Penso que, talvez, não se trata tanto de indiferença, de insensibilidade, mas antes do peso que transportamos sobre nós com todas as pressões que a vida nos impõe. Nas grandes cidades, por exemplo, se estivermos atentos, veremos, especialmente em horas de ponta, as pessoas caminhando apressadas, de olhos no chão, receosas de perder os transportes, pensando nas tarefas que ainda as esperam em casa, o desejo de chegar ao aconchego do seu lar…O pensamento está longe. Mas há também em nós uma certa cobardia e comodismo, o receio de nos envolvermos nos problemas dos outros, de, perante certas situações, temermos que alguma coisa corra mal. Muitas vezes, olhamos de soslaio e continuamos o nosso caminho. Mas, graças a Deus, ainda há aqueles que se esforçam por intervir em situações que mexem com a sua sensibilidade e os seus valores. Cada vez mais nós assistimos a casos de injustiça, de desumanidade, de falta de amor, que nos perturbam e que nos deixam muito tristes. Nós precisamos de ser solidários, não permitirmos que a indiferença controle os nossos sentimentos e nos impeça de olhar os outros como irmãos.
Relembro uma frase que ouvi no final do programa da Oprah; “Não é o ódio que mata as pessoas, mas sim a indiferença”.