Numa das Revistas TABU do mês de Novembro, Vítor Rainho escreveu que “O conceito de viagem tem vindo a mudar com as alterações das políticas das companhias aéreas. Há uns anos, andar de avião era algo que as classes mais desfavorecidas, regra geral, só conseguiam visualizar em sonhos. Mesmo longas distâncias eram percorridas de comboio ou autocarro.”
Lembrei-me da primeira viagem que fiz de comboio, sozinha, para além fronteiras. Fui convidada para participar num campo internacional de trabalho numa pequena localidade da Alemanha, Nordkichen, na região da Westfália. Era jovem. Posso considerar que, naquele tempo, foi uma aventura e ainda hoje me admiro da minha coragem, até porque pouco tinha viajado dentro do nosso país. Apesar das supostas dificuldades que poderia encontrar, no dia 4 de Agosto, as 8.40 horas, parti rumo ao desconhecido, sem receios, disposta a aproveitar todas as experiências que iria viver a dois mil e tal quilómetros de casa.
Naquela viagem registei no meu diário: “ Entrámos em Espanha às 5 horas da tarde. Fiquei desiludida com este país, nosso vizinho. Desde o aspecto descuidado dos homens das estações, com as suas fardas dum verde desbotado, grandes demais, às casas cor de terra, os terrenos incultos, tudo com um ar de abandono. Não me podia mexer para não incomodar o meu companheiro do lado que dormia. Passámos a noite a atravessar a Espanha, no comboio que parecia não andar a mais de 10 km à hora. Quando se fez dia, vi uma Espanha diferente. A paisagem era linda, muito verde, e já podíamos ver os Pirinéus, com a sua beleza imponente, parecendo que a qualquer momento se poderiam despenhar sobre o pequeno comboio que nos levava. Passámos muitos túneis. Tomei o pequeno almoço no comboio. Que grande desilusão!... Serviram-me um café que, talvez, nem um quilo de açúcar o conseguisse adoçar, e um “croissant” pouco saboroso. Paguei 22,5 pesetas, ou sejam, 13.50 escudos. Chegámos a Hendaye às 11.30 horas. Depois de muitas voltas, sempre com as malas na mão, fomos à alfândega , mas a mim não me abriram as malas, felizmente! Ás 2,43 horas da tarde tomei outro comboio directo para Paris, moderno e confortável. Achei a França muito bonita com a sua vegetação luxuriante e salpicada aqui e além com as tendas dos campistas. Chegámos a Paris ás 23,30 horas. Passei a noite num hotel. No dia seguinte passeei pelos “boulevards” daquela linda cidade, sempre de mapa na mão para não me perder. Parti às 11,00 horas da noite da Gare do Norte rumo à Alemanha. Cheguei a Dortmund às 11,00 da manhã e apanhei outro comboio que me deixou em Nordkichen, onde me esperava o dirigente do campo de trabalho. A minha viagem terminou perto do meio-dia no dia 7 de Agosto. Até que enfim!”
Voltei a fazer outras viagens de comboio que deixavam sempre histórias para contar. Muitos anos depois, fiz duas viagens de autocarro, uma para a Suiça e outra para a Alemanha, que não me deixaram vontade de repetir a proeza.
Aquela longa primeira viagem para a Alemanha, que demorou 46 horas de comboio, fora as mudanças que tive de fazer e o tempo que esperei nas estações e em Paris, resumem-se hoje acerca de 3 horas de avião.
Agora, viajar nos comboios de alta velocidade, as grandes distâncias fazem-se em poucas horas. O conforto que oferecem aos passageiros tornam as viagens muito agradáveis. Sentimo-nos mais à vontade, podemo-nos levantar e esticar as pernas, ir até ao bar, enfim, um conjunto de mordomias que nos são proporcionadas. Mas viajar de avião, além do tempo que poupamos e embora não nos sintamos muito confortáveis, também tem os seus encantos. Há dois anos, num voo nocturno, apreciei o nascer do sol. Não tenho palavras para descrever o que senti, foi maravilhoso !!
E Vitor Rainho termina com estas palavras: “Como todos os fenómenos de moda à medida que se vão alastrando vão morrendo na origem, viajar de avião, hoje, não tem qualquer carga glamorosa, nem tão pouco representa estatuto. Os lugares são mais apertados, o serviço é quase inexistente e, como tal, fantástico é andar de avião particular.”
Isso agora já se torna mais difícil…Vamo-nos contentando com uma viagem comprada na ”net” que a vida não está para grandes aventuras.
Lembrei-me da primeira viagem que fiz de comboio, sozinha, para além fronteiras. Fui convidada para participar num campo internacional de trabalho numa pequena localidade da Alemanha, Nordkichen, na região da Westfália. Era jovem. Posso considerar que, naquele tempo, foi uma aventura e ainda hoje me admiro da minha coragem, até porque pouco tinha viajado dentro do nosso país. Apesar das supostas dificuldades que poderia encontrar, no dia 4 de Agosto, as 8.40 horas, parti rumo ao desconhecido, sem receios, disposta a aproveitar todas as experiências que iria viver a dois mil e tal quilómetros de casa.
Naquela viagem registei no meu diário: “ Entrámos em Espanha às 5 horas da tarde. Fiquei desiludida com este país, nosso vizinho. Desde o aspecto descuidado dos homens das estações, com as suas fardas dum verde desbotado, grandes demais, às casas cor de terra, os terrenos incultos, tudo com um ar de abandono. Não me podia mexer para não incomodar o meu companheiro do lado que dormia. Passámos a noite a atravessar a Espanha, no comboio que parecia não andar a mais de 10 km à hora. Quando se fez dia, vi uma Espanha diferente. A paisagem era linda, muito verde, e já podíamos ver os Pirinéus, com a sua beleza imponente, parecendo que a qualquer momento se poderiam despenhar sobre o pequeno comboio que nos levava. Passámos muitos túneis. Tomei o pequeno almoço no comboio. Que grande desilusão!... Serviram-me um café que, talvez, nem um quilo de açúcar o conseguisse adoçar, e um “croissant” pouco saboroso. Paguei 22,5 pesetas, ou sejam, 13.50 escudos. Chegámos a Hendaye às 11.30 horas. Depois de muitas voltas, sempre com as malas na mão, fomos à alfândega , mas a mim não me abriram as malas, felizmente! Ás 2,43 horas da tarde tomei outro comboio directo para Paris, moderno e confortável. Achei a França muito bonita com a sua vegetação luxuriante e salpicada aqui e além com as tendas dos campistas. Chegámos a Paris ás 23,30 horas. Passei a noite num hotel. No dia seguinte passeei pelos “boulevards” daquela linda cidade, sempre de mapa na mão para não me perder. Parti às 11,00 horas da noite da Gare do Norte rumo à Alemanha. Cheguei a Dortmund às 11,00 da manhã e apanhei outro comboio que me deixou em Nordkichen, onde me esperava o dirigente do campo de trabalho. A minha viagem terminou perto do meio-dia no dia 7 de Agosto. Até que enfim!”
Voltei a fazer outras viagens de comboio que deixavam sempre histórias para contar. Muitos anos depois, fiz duas viagens de autocarro, uma para a Suiça e outra para a Alemanha, que não me deixaram vontade de repetir a proeza.
Aquela longa primeira viagem para a Alemanha, que demorou 46 horas de comboio, fora as mudanças que tive de fazer e o tempo que esperei nas estações e em Paris, resumem-se hoje acerca de 3 horas de avião.
Agora, viajar nos comboios de alta velocidade, as grandes distâncias fazem-se em poucas horas. O conforto que oferecem aos passageiros tornam as viagens muito agradáveis. Sentimo-nos mais à vontade, podemo-nos levantar e esticar as pernas, ir até ao bar, enfim, um conjunto de mordomias que nos são proporcionadas. Mas viajar de avião, além do tempo que poupamos e embora não nos sintamos muito confortáveis, também tem os seus encantos. Há dois anos, num voo nocturno, apreciei o nascer do sol. Não tenho palavras para descrever o que senti, foi maravilhoso !!
E Vitor Rainho termina com estas palavras: “Como todos os fenómenos de moda à medida que se vão alastrando vão morrendo na origem, viajar de avião, hoje, não tem qualquer carga glamorosa, nem tão pouco representa estatuto. Os lugares são mais apertados, o serviço é quase inexistente e, como tal, fantástico é andar de avião particular.”
Isso agora já se torna mais difícil…Vamo-nos contentando com uma viagem comprada na ”net” que a vida não está para grandes aventuras.