“Um facto: Portugal é um dos países do mundo que tem a população mais envelhecida. Outro facto: são cada vez mais os idosos abandonados pela família. Com a desumanização da sociedade, os pais são considerados um estorvo para muitos. Por isso se assiste durante as épocas do Natal e das férias a um dos actos mais hediondos dos tempos modernos. Filhos que abusam, por exemplo, na medicação dos pais para que estes se sintam mal e fiquem internados durante as festas. Diz muito de quem o faz …
Além desses períodos especiais, também durante os restantes dias do ano os progenitores, quando deixam de ser auto-suficientes, são abandonados. Quem pode financeiramente trata de os colocar num lar, não se preocupando com a qualidade do mesmo. Longe da vista, longe do coração. Já quem não tem dinheiro procura passar bem ao lado da casa onde cresceu e viveu toda a infância e onde continuam a viver os pais. É uma chatice, pensam. Acredito que muitos daqueles que têm tal comportamento terão um final idêntico. Se são esses valores que cultivam, hão-de colher da mesma semente.
Não perceber que a vida é um ciclo em que nascemos, crescemos e ficamos outra vez crianças é algo de aterrador. Tenho visitado diversos hospitais e fico sempre com um nó na garganta quando vejo tantos e tantos idosos abandonados pelos familiares. Pessoas que se sentem perdidas e para quem um pequeno gesto representa muito. É impressionante a alegria dos doentes quando aparecem as senhoras da bata amarela com um chá quente ou um pacote de bolachas. Nesta edição damos conta dom trabalho da equipa de Apoio Domiciliário 24 Horas da Misericórdia de Alhos Vedros, concelho da Moita. Alguns são autênticos heróis no serviço que prestam. Sete vezes por dia, os idosos acamados são visitados, sendo-lhes trocadas as fraldas e dada comida. Haverá quem o faça por dinheiro, mas há seguramente mentes brilhantes nesse campo.”
(da Revista “TABU”, de 28.03.09, Vitor Rainho)