Recentemente, pediram-me para ir a sua casa porque o carteiro tinha deixado umas cartas com um destinatário desconhecido e era preciso devolvê-las. A sua família está em Lisboa e só vem de tempos a tempos, como já era habitual, e é a empregada que tira o correio da caixa e vai cuidando da limpeza da casa. Estava uma tarde de sol! Abri a porta e entrei. Pareceu-me estar tudo escuro. Deixei a porta entreaberta e comecei a subir as escadas. O silêncio era total. A caliça, cobrindo os degraus, veio lembrar-me o vazio da casa. De repente, apoderou-se de mim um sentimento estranho e comecei a correr procurando rapidamente fazer o que me tinha sido pedido. O sol inundava a sala, a correspondência estava em cima da mesa de jantar, mas não encontrei as ditas cartas, e, assim como entrei, rápida, desci os degraus, fechei a porta e saí para a rua.
Nessa tarde, já mais calma, procurei encontrar uma explicação para a experiência que tinha vivido. A minha querida Amiga deixou-nos há perto de um ano, mas para mim aquela casa era e será sempre a sua casa. Já lá voltei outras vezes para me encontrar com as suas filhas, mas aquele momento foi especial, eu senti-me uma intrusa invadindo a privacidade de alguém que guardara ali as recordações de uma grande parte da vida e onde se sentira sempre mais feliz. Depois, aquela ausência de ruído, o vazio que me atingiu quando abri a porta, devem-me ter transportado, sem eu disso me aperceber, a situações vividas no passado, uma delas ainda recente. Angústias e temores sentidos quando, por duas vezes, a querida Amiga , num sono profundo e tranquilo, não ouviu a campainha da porta e o tocar do telefone que insistiam, mas não eram atendidos. Fui avisada do que se passava e corri, a primeira vez com um amigo e anos mais tarde, com o meu marido, aflitos e pensando o pior. A corrente estava na porta a impedir-nos de entrar. Foi preciso chamar os bombeiros e, da última vez, a polícia teve de intervir porque as janelas também estavam fechadas. O silêncio da casa e a escuridão que nos envolvia à medida que subíamos os degraus apertavam os nossos corações. Foram momentos que eu nunca vou poder esquecer. A sua idade avançada e a sua já muito débil saúde eram motivos de preocupação. Graças a Deus a minha Amiga dormia calmamente.
Agora, eu não senti medo de a qualquer instante ser surpreendida por a ver no cimo das escadas ou sentada na sala , mas, sim, pelo facto de não ter ouvido a sua voz afável a dizer-me “Faz favor de subir!”, para depois ser recebida com um bonito sorriso de boas-vindas e um beijo… Só pude escutar o silêncio…
Desta casa, saudosa Amiga, eu guardo gratas recordações vividas ao longo dos 49 anos da nossa amizade. Sinto muito a falta da sua jovialidade, dos seus conselhos, das suas palavras atenciosas e sábias. Ficava presa aos relatos das suas viagens, enquanto criança e jovem, por terras de África. A sua disponibilidade para cuidar dos meus filhos quando, em crianças, lhe ficaram algumas vezes confiados. A nossa vivência cristã uniu-nos na igreja que frequentámos e na comunhão com Deus. E será na Sua presença que nos voltaremos a encontrar um dia!
Até lá, fico com as recordações e a saudade….
Nessa tarde, já mais calma, procurei encontrar uma explicação para a experiência que tinha vivido. A minha querida Amiga deixou-nos há perto de um ano, mas para mim aquela casa era e será sempre a sua casa. Já lá voltei outras vezes para me encontrar com as suas filhas, mas aquele momento foi especial, eu senti-me uma intrusa invadindo a privacidade de alguém que guardara ali as recordações de uma grande parte da vida e onde se sentira sempre mais feliz. Depois, aquela ausência de ruído, o vazio que me atingiu quando abri a porta, devem-me ter transportado, sem eu disso me aperceber, a situações vividas no passado, uma delas ainda recente. Angústias e temores sentidos quando, por duas vezes, a querida Amiga , num sono profundo e tranquilo, não ouviu a campainha da porta e o tocar do telefone que insistiam, mas não eram atendidos. Fui avisada do que se passava e corri, a primeira vez com um amigo e anos mais tarde, com o meu marido, aflitos e pensando o pior. A corrente estava na porta a impedir-nos de entrar. Foi preciso chamar os bombeiros e, da última vez, a polícia teve de intervir porque as janelas também estavam fechadas. O silêncio da casa e a escuridão que nos envolvia à medida que subíamos os degraus apertavam os nossos corações. Foram momentos que eu nunca vou poder esquecer. A sua idade avançada e a sua já muito débil saúde eram motivos de preocupação. Graças a Deus a minha Amiga dormia calmamente.
Agora, eu não senti medo de a qualquer instante ser surpreendida por a ver no cimo das escadas ou sentada na sala , mas, sim, pelo facto de não ter ouvido a sua voz afável a dizer-me “Faz favor de subir!”, para depois ser recebida com um bonito sorriso de boas-vindas e um beijo… Só pude escutar o silêncio…
Desta casa, saudosa Amiga, eu guardo gratas recordações vividas ao longo dos 49 anos da nossa amizade. Sinto muito a falta da sua jovialidade, dos seus conselhos, das suas palavras atenciosas e sábias. Ficava presa aos relatos das suas viagens, enquanto criança e jovem, por terras de África. A sua disponibilidade para cuidar dos meus filhos quando, em crianças, lhe ficaram algumas vezes confiados. A nossa vivência cristã uniu-nos na igreja que frequentámos e na comunhão com Deus. E será na Sua presença que nos voltaremos a encontrar um dia!
Até lá, fico com as recordações e a saudade….