Quando passo pela zona da nossa cidade conhecida pelo Pinhal, olho sempre para uma casa pequena, amarela, que fica numa esquina e hoje desabitada e degradada. Recordo então, que há muitos anos, era habitada por uma mulher, mãe solteira, com dois filhos pequenos. Trabalhava a dias e levava uma vida muito dura. Quando a conheci, tinha os filhos num infantário, e, segundo me contavam, havia meses que ela não podia pagar as mensalidades dentro do prazo estipulado, embora fosse uma pequena importância. Quando sabia que isso ía suceder, telefonava, pedia muitas desculpas pelo atraso e prometia fazê-lo logo que lhe fosse possível e cumpria sempre! Era uma mulher que lutava arduamente para poder dar aos filhos o mínimo de condições. Qualquer atenção que recebia, qualquer favor que lhe prestassem, ela mostrava-se sempre muito reconhecida e agradecia com um bonito sorriso no rosto, já bem marcado pelo sofrimento.
E penso para comigo, que sermos gratos parece simples, mas não é. Nem sempre é fácil amarmos a vida tal e qual como ela se nos apresenta. Quando as circunstâncias nos são adversas é complicado sentirmo-nos gratos. Temos a tendência para avaliarmos a vida dos outros e acharmos que ela é muito melhor do que a nossa, ao mesmo tempo que lamentamos muitas vezes a nossa imerecida falta de sorte. Depois, quando a vida nos sorri e estamos a passar por momentos mais felizes e ficam para trás as frustrações e dificuldades por que passámos, consideramo-nos merecedores duma recompensa. É compreensível que, em tempos de crise , nos lamentemos e choremos as nossas desilusões, os nossos fracassos e desgostos. Mas a pouco e pouco, com o passar do tempo, eles vão-se dissipando e deixamos de vê-los como resultantes da nossa falta de sorte, mas antes como fazendo parte da vida. Viver o presente, com tudo aquilo que ele tem para nos dar, impõe deixar de pensar no futuro com a ilusão de que sempre iremos viver melhores dias, criando assim fantasias sem fundamento. Implica também que devemos saber agradecer e dar valor a tudo o que o presente nos dá.
Dar e receber, uma partilha de sentimentos, que, com o desenrolar da vida, se tornam num bem-estar, numa satisfação, indispensáveis para uma vivência feliz, nunca esquecendo de saber dar sempre graças a Deus pela nossa vida, com os seus momentos bons e menos bons, vividos com os nossos familiares e amigos, compreendendo que faz sentido vivê-la em pleno.