“Podemos ou não acreditar nos jornais? Podemos ou não confiar nos jornalistas? O que os jornais dizem reflecte ou não reflecte fielmente a realidade?
Nunca haverá consenso sobre estas questões.
Os políticos dizem-se invariavelmente prejudicados pelo que os jornais, as rádios e as televisões escrevem ou dizem. E, em geral, quem é objecto de notícias ou comentários na imprensa considera-se injustiçado. É muito raro ouvir alguém concordar com uma notícia ou um comentário a seu respeito. Há sempre uma correcção a fazer, uma objecção a colocar, qualquer coisa que está a mais ou a menos.
“O que verdadeiramente importa – e sobre isso fala-se estranhamente muito pouco – é o seguinte: os meios de comunicação social, pela sua própria natureza, darão sempre uma imagem errada, distorcida, da realidade.
A realidade e o modo como os “media” a reflectem serão sempre duas coisas distintas.
Porquê?
Porque aos “media” não interessa a regra – interessa a excepção. Aquilo que é banal, que é rotineiro, não é notícia: a notícia é o que surpreende, o que escapa à rotina.
Ora a realidade faz-se da regra e não da excepção, do que é comum e não do que é incomum.”
“ Mas quantas “realidades” muito longe da realidade, feitas de excepções, de situações incomuns, os jornais, as rádios e os canais de televisão não constroem a toda a hora?”
“Assim, quando se diz que os “media” não reflectem a realidade, tal é inteiramente verdade só que não tem que ver, necessariamente, com a maior ou menor seriedade dos jornalistas. Tem que ver com a própria natureza dos “media”.
Se o que é notícia é a excepção, é a anormalidade, é o que é invulgar, como podem os “media” reflectir fielmente a realidade?”
“Ao seleccionar só o que é anormal, a imprensa, a rádio e a televisão dão uma imagem falsa da realidade.
Claro que a competição na área mediática, que hoje é brutal, agrava esta tendência.
Hoje os jornalistas procuram as notícias com mais sofreguidão, escrevem-nas com mais colorido, titulam-nas com mais agressividade – porque é essa capacidade de causar surpresa que vai marcar a diferença.
No impacto que as notícias possam causar está hoje muitas vezes o segredo do sucesso ou insucesso de um dado meio de comunicação.
E, portanto, é muito tentador para um jornalista sacrificar a verdade para não perder uma boa história.
Mas, repito: o importante é perceber que a distorção da realidade está na própria natureza dos “media”.