quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O COMÉRCIO TRADICIONAL

Normalmente quando ando pela cidade há determinadas ruas que fazem parte do meu percurso habitual e que, por sinal, são aquelas onde mais se concentram as pequenas lojas que constituem o comércio local. Algumas já vieram substituir outras mais antigas, embora haja ainda algumas , pertencentes a comerciantes já idosos, que com amabilidade e respeito se empenham em bem servir os seus clientes. O movimento que tinham, especialmente no verão, com a vinda dos turistas espanhóis , por exemplo, é muito reduzido, mas muitas pessoas ainda sabem onde se dirigir quando procuram determinados artigos de referência dessas lojas.
Os tempos mudaram e a moda é actualizada em cada estação, no que se refere ao vestuário, com as novidades ditadas pelas grandes marcas e copiadas com algumas modificações e qualidade dos materiais. Mas o mercado está fraco e é com tristeza que eu passo e vejo as lojas desertas e nem mesmo as inevitáveis compras de Natal lhes trazem o movimento que, há muitos anos atrás, obrigava o pessoal a andar numa roda viva, atendendo cliente atrás de cliente. Acontece que as preferências pessoais foram mudando e substituídas por escolhas mais acessíveis em termos de custos, que, conjugadas com os novos padrões da moda, foi levando os interessados a procurarem as grandes superfícies, onde a diversidade é referência e permite uma maior possibilidade de escolha. Depois, isto falando em termos locais, o mercado chinês invadiu a nossa cidade. Se eu não estou em erro, há, pelo menos, 11 lojas chinesas, algumas bem perto umas das outras, abertas todos os dias do ano, salvo uma ou outra excepção. E uma coisa é certa, elas vieram para ficar e têm todo o direito de se expandirem, até porque gozam de vantagens derivadas de acordos feitos entre o seu governo e o nosso. Oferecem uma diversidade de produtos que vendem a preços mais vantajosos, embora a qualidade seja uma desvantagem. Mas estou quase certa que estas lojas não conseguem escoar a mercadoria que vão acumulando nos corredores e prateleiras.
Quando vejo uma loja nova fico apreensiva e chego a pensar que não foi uma boa opção do seu proprietário. Porque o que normalmente acontece é não conseguirem manter-se abertas por muito tempo. Houve investimento, competitividade na oferta, mas o consumidor , ou por indiferença ou pela necessidade de cada vez mais moderar as suas despesas e procurar mercados alternativos, não ajuda a que se mantenha o negócio.
As pequenas lojas a que nos acostumámos parecem ter os dias contados. Li num semanário que “no comércio tradicional, por cada loja que abre, fecham cinco”. Prevê-se que “30 mil pessoas podem perder o emprego devido ao fecho de lojas, que deverá agravar-se este ano” (SOL, 24.01.09). Não é uma situação nova, ela tem vindo a agravar-se de ano para ano, salvo raras excepções, que sempre as há, e não se vêem perspectivas de um retorno aos tempos áureos do comércio tradicional. Cada dia se vão criando novas formas de mercado competitivo. E as pessoas que hoje correm para as grande superfícies, onde se habituaram a fazer as suas compras, amanhã, quem sabe, não irão dar preferência às lojas tradicionais , porque fizeram do seu estilo a sua referência e apostaram na qualidade da sua mercadoria? O desafio e a esperança num futuro melhor podem servir de estímulo a uma nova era do comércio tradicional!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Está bem...façamos de conta

"Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos".

Mário Crespo, JN