quinta-feira, 16 de julho de 2009

RECORDAÇÕES

Há poucos dias reuniu-se a família no aniversário do nosso filho mais velho. Com jeitinho conseguiram sentar-se 16 pessoas à mesa para um almoço preparado pelo aniversariante. São momentos como este que enchem de alegria os nossos corações e há sempre tanto para recordar quando estamos juntos! Uma frase, que já não ouvia há muito tempo, surgida na animação da conversa, transportou-me ao passado:” Mamã, olha o meu irmão!”. Naquele momento, recordei as suas travessuras da infância, as quezílias, as queixas e lamúrias, as partidas, nem sempre bem aceites pelos visados, as emoções vividas por experiências partilhadas, algumas das quais, nós, os pais, estávamos longe de imaginá-las. As brincadeiras na rua, que às vezes terminavam em choro, mas que eram sempre as preferidas: uns pontapés na bola, as descobertas de novas aventuras, e por aí fora.
Lembro-me que o elevador do nosso prédio, dos primeiros nas redondezas, era procurado por toda a criançada do bairro e da que passava para as escolas. Apesar dos ralhos ou dum puxão de orelhas dado por algum vizinho mais irritado com toda aquela paródia, a miudagem não desistia. Era ouvi-los para baixo e para cima, a parar o elevador em todos os andares, numa algazarra constante. O pior é que, de volta em meia, éramos obrigados a usar as escadas, porque o dito elevador não resistia a tantas provações…
Hoje, se não estou em erro, há apenas umas três crianças nesta zona, mas procuramos todos manter as portas de entrada bem fechadas, receando visitas menos bem intencionadas. O elevador está mais silencioso e a sua manutenção mantém-se dentro das normas estabelecidas, sem chamadas de emergência. Vamos à janela, e a qualquer hora olhamos alguns carros procurando um lugar para estacionar. Os gatos passeiam-se tranquilamente nas traseiras, aguardando a hora da próxima refeição, que uma senhora da vizinhança tem sempre o cuidado de lhes proporcionar. As pombas passam o dia debicando aqui e ali, em perfeita confraternização com as gaivotas e os felinos. Um passarinho numa gaiola faz ouvir os seus trinados. Amanhã, serão estas as recordações que levarei deste presente e, graças a Deus, porque apesar das coisas menos boas da vida, vão surgindo sempre os momentos mais felizes, que me deixam gratas lembranças e me fazem sentir que tenho sido sempre muito abençoada com a família que tenho, com as amizades que fui criando nesta linda cidade que me adoptou há já muitos anos!

domingo, 5 de julho de 2009

VIVER O PRESENTE

Num programa recente da Oprah, quem assistiu viveu, certamente, com emoção a apresentação de alguns casos de crianças que desde o seu nascimento vivem com deficiências físicas que, só após operações difíceis e demoradas, têm, pouco a pouco, conseguido melhorar a sua qualidade de vida. Felizmente os avanços da Medicina têm permitido que às mulheres grávidas sejam feitos exames que podem já detectar, com alguma certeza, se o feto apresenta disfunções que venham a pôr em causa o seu crescimento normal, antes e depois do nascimento. Foi o caso apresentado de uma jovem mulher, que às 38 semanas de gravidez, lhe foi dito que o seu bebé era portador de Trissomia 18 e que as suas possibilidades de vida eram diminutas. Depois de confrontados com a realidade da situação, o casal tudo fez para, com alegria, levar a vida o mais normal possível, aproveitando todos os minutos que iriam poder gozar com o seu bebé. Pensando em outros pais, que pudessem estar a passar pelo mesmo, o pai começou a escrever todos os dias uma carta ao filho, descrevendo o que se ia passando. Mãe e pai faziam turnos para lhe darem o biberão, tarefa que demorava uma hora e meia, aliada a muitos outros cuidados que lhe iam mantendo a vida. As cartas continuaram a ser escritas, as fotografias encheram os álbuns e aqueles pais foram assim aproveitando cada dia da curta vida que o sei filhinho iria viver. Os seus três meses de vida foram sendo comemorados até à sua partida deste mundo com 99 dias… Mais de 3 mil fotografias ficaram para recordar a sua curta passagem pela vida! Sentiam-se felizes por terem desfrutado do lento mas precioso desenvolvimento do seu bebé!
De sua casa nos U.S.A. participavam no programa. Falaram da sua experiência, mostraram fotografias e contaram da importante colaboração dum amigo que lhes permitiu fazer um vídeo de tributo ao seu filho, que inclui as cartas e as fotografias. Esperam em breve o nascimento de um irmãozinho para o Ben. Quando a apresentadora do programa manifestou a sua admiração pela coragem que eles mostraram e a tristeza que certamente sentiam enquanto preparavam aquele vídeo, a mãe dizia a sorrir: ”Posso ficar triste depois. Tenho muito tempo para chorar”.
Aqueles pais viveram cada momento de partilha com o seu menino, agradecendo a Deus os 99 dias em que tinham sido uma família feliz, apesar de todas as dificuldades que iam surgindo e sabendo o que o futuro lhes reservava. Os momentos difíceis ajudaram a crescer e a partilhá-los com todos aqueles que possam ter acesso ao vídeo. Eles souberam aproveitar cada dia da melhor maneira, sem estarem preocupados em viver o amanhã.
“Posso chorar depois”…Uma lição para todos nós!