domingo, 23 de agosto de 2009

UMA NOVA VIDA

A amiga, a quem já me referi algumas vezes, teve de deixar a sua casa e ir para um Lar de Idosos, depois de ter caído e ficado impossibilitada de abrir a porta à funcionária da instituição que lhe fornecia o almoço. Embora contrariada, já não teve mais forças para lutar e lá está. A pouco e pouco a sua saúde foi-se debilitando, perdeu as forças, e o seu já pouco ou nenhum interesse pela vida abandonou-a por completo, apesar de continuar a resistir a qualquer ajuda que as vizinhas e as amigas sempre lhe quiseram prestar.
É muito triste assistir à degradação da vida duma pessoa, especialmente quando a conhecemos há muitos anos e com ela convivemos.
Nem todos conseguem ultrapassar a solidão, sobretudo quando a saúde começa a faltar e se vai perdendo a disposição para comunicar com os outros. É meio caminho andado para se instalar a depressão e com ela o desinteresse pela vida, o descuido com a aparência e o arranjo da casa. Esta amiga isolou-se do mundo e nada, nem ninguém, conseguiram convencê-la a mudar o estilo de vida que escolheu para viver nestes últimos anos. O nosso coração está muito triste, questionamos os “porquês” que a levaram a um tal estado, mas não encontramos respostas. E ela, tê-las á !?
Agora tem quem olhe por ela, está cuidada, tem o sol a entrar pela janela do quarto, tem companhia, não está só. Ganhou uma qualidade de vida há muito perdida. Que Deus a ajude neste processo de adaptação por que está a passar, que ela se possa ir sentindo como mais um membro da grande família a que agora pertence. Não vai ser fácil ela aceitar a mudança de um momento para o outro, sem passar por emoções que as recordações do passado lhe trarão, mas também creio, pelo que me foi já dado observar, que não está indiferente aos benefícios que está a usufruir no seu corpo cuidado, na atenção que lhe dispensam e no carinho com que é tratada. Visitas não lhe irão faltar, estou convencida disso.
Força, Amiga, vamos sempre a tempo de aceitar a mudança !

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

HÁBITOS

As aulas de hidroginástica do Ginásio Clube Figueirense foram suspensas para um período de férias. Durante um mês não farei as minhas caminhadas até à piscina e isso vem quebrar uma das minhas rotinas da semana. Mesmo os mais avessos a hábitos estabelecidos não podem fugir a eles. Toda a nossa vida, quer queiramos quer não, gira à volta de rotinas, muitas delas são consequência de obrigações a que não podemos fugir. Depois há hábitos que herdámos da infância, pela educação que recebemos, muitos dos quais ainda conservamos. Cada um de nós vai-os desenvolvendo ao longo da vida, ao mesmo tempo que perdemos uns e adquirimos outros. É curioso que muitas vezes eles nos identificam, embora isso nem sempre nos traga qualquer benefício. Li há pouco tempo, na revista Sábado, a notícia de um caso passado no Reino Unido. Uma mulher de 85 anos vivia sozinha num apartamento de uma rua movimentada de Edimburgo e era conhecida da vizinhança porque passava na rua 4 vezes por semana, calçada com botas e mochila às costas, equipada para os passeios que costumava dar. Nos últimos 5 anos ninguém estranhou a sua ausência. A reforma continuava a vir para a sua conta bancária e as suas contas pagas através do banco. E foi passado esse tempo que o vizinho do andar de baixo se queixou por problemas de infiltrações surgidos no tecto e a falta de resposta da inquilina. A polícia teve de intervir e encontrou o corpo desta mulher sem vida. São situações quase inimagináveis, mas que, infelizmente, acontecem.
Há aqueles hábitos que se tornam rituais que cumprimos religiosamente. Eu sou uma pessoa de hábitos, que giro com uma certa rigidez, e sinto-me um pouco perdida quando a minha vida foge à rotina. Sou especialista em gestos que até podem passar despercebidos a quem me conhece e lida mais de perto comigo, que são reflexos involuntários dos quais eu própria nem me apercebo. Gosto muito da simetria, cada coisa no seu lugar, colocada de uma certa maneira. A toalha que está descaída de um lado, o armário com a porta entreaberta, a cadeira um pouco afastada da mesa, são situações que me obrigam a intervir de imediato. Cada doido tem as sua manias!
Infelizmente, há hábitos que se transformam em vícios, que prendem as pessoas nas suas malhas e podem arruinar as suas vidas, como o álcool e a droga. E aqueles hábitos que se vão perdendo pouco a pouco e levam as pessoas muitas vezes ao isolamento, ao distanciamento dos outros. Nestes casos é muito difícil qualquer tentativa de ajuda, de aproximação, porque não há receptividade nem abertura. A perda de hábitos acaba por levar à solidão que vai invadindo a vida dos idosos, dos esquecidos, dos marginalizados…
Não me posso esquecer: Em Setembro começam de novo as minhas aulas de hidroginástica !