sábado, 17 de abril de 2010

TODOS FAZEMOS PLANOS

Numa entrevista a Maria Cavaco Silva, quando é questionada se está preparada para ficar mais 5 anos como primeira dama, caso o marido se recandidate, ela responde: “Não me candidatei, também não me recanditarei. Já estive preparada para muitas coisas que nunca pensei que me acontecessem. Cito uma frase de Agostinho da Silva que talvez corresponda à minha vida, “Nunca faças planos excessivos para a vida, para não atrapalhar os planos que a vida tem para ti.” Talvez por tudo o que planeei não aconteceu, acontecendo tudo aquilo que não tinha planeado. A vida tem com certeza planos, quais não sei. Quando vêm aceito-os e faço o melhor que posso e sei” (*)
Há determinados planos para o futuro que eu evito fazer. Procuro ir deixando o tempo passar e os acontecimentos vão-se desenrolando, alguns nem sempre como eu teria desejado, outros até, impensáveis, e que acabam por me surpreender pela positiva. Sou um pouco pessimista, não que esteja sempre a pensar que a qualquer momento irei deparar-me com situações desagradáveis, mas prefiro ser cautelosa nas minhas intenções, para não sofrer depois as desilusões dos imprevistos.
Se eu fosse dizer que procuro viver apenas um dia de cada vez, sem pensar no que irei fazer amanhã, então eu não teria perspectivas para o futuro. Por muito reticente que eu seja nos planos que faço, sobretudo a longo prazo, estou absolutamente consciente que a minha vida, como a de qualquer outra pessoa, tem de ser planeada, pois é assim que ela vai a pouco e pouco sendo construída. A falta de planos compromete o nosso futuro. Os tais “planos excessivos “ de que fala Agostinho da Silva, é que podem ficar comprometidos, porque a vida nem sempre corre ao sabor da nossa vontade.
A velhice, a fragilidade da saúde, a solidão, vão provocando o alheamento da vida, o desinteresse pelo amanhã, e, consequentemente, a vontade e a capacidade de fazer planos. Quando entro num lar de idosos fico muito triste porque vejo nos olhares de alguns deles a “espera” por alguma coisa e a resignação . Já não fazem planos, mas talvez ainda sonhem...Planear os dias implica luta, persistência. Sonhar é só imaginar, fantasiar e deixar-se embalar por eles…

(*) Revista “Única” do semanário Expresso, de 06.03.10

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ÓSCAR, UM GATO ESPECIAL

Na Revista ÚNICA, do semanário Expresso, de 27 de Março, vem a história de um gato, que desde os 6 meses de idade e juntamente com mais 5 companheiros, vive no lar Steere House, em Rhode Island, nos Estados Unidos. Pouco sociável, passava os seus dias a dormir nos seus cobertores. “Pensava-se que era um gato comum. Mas isso foi antes do pessoal do terceiro piso, dedicado aos cuidados paliativos, lhe detectar um dom extraordinário: quando a saúde de um dos pacientes piorava, Óscar começava a visitá-lo no quarto com frequência. A certa altura, subia para a cama, aninhava-se aos pés do paciente e dali não saía. Em vigília, acompanhava-o nas últimas horas”. Quando a enfermeira Mary chamou a atenção do médico geriatra, David Dosa, para o estranho dom do gato , incrédulo ele respondeu :”Não me entenda mal, Mary. Adoro a ideia de um animal se vir sentar junto de mim quando eu morrer. É enternecedor”. Pouco tempo depois, uma mulher de 80 anos, que padecia de uma doença grave, e “apesar de nada indicar que a sua morte era iminente, a enfermeira surpreendera-se por Óscar se ter enroscado ao lado da paciente. Dosa encolheu os ombros e partiu, sem dar grande importância à teoria da enfermeira. Uma hora depois recebeu um telefonema. A senhora Davis tinha falecido na companhia de Óscar. “Está a acontecer sempre que alguém morre. David, acho mesmo que o gato sabe”, insistiu Mary.
Passaram-se seis meses, o médico já tinha esquecido o assunto , mas recebe de novo um telefonema informando-o que outra paciente do lar tinha falecido, “e, como noutras ocasiões, Óscar montara vigilância na cama da paciente durante as últimas horas de vida”. E, diz Dosa, “ Embora ninguém entre o pessoal médico, incluindo eu, achasse que ela estava sequer doente, muito menos perto da morte, aquele gato sentiu qualquer coisa. Ainda que a minha fé na ciência e a minha própria vaidade me ajudassem a rejeitar a ideia de que um felino qualquer podia saber mais do que nós, médicos e enfermeiros, sabíamos, senti-me estranhamente eufórico com a ideia de poder estar completamente enganado”, escreve ele mais tarde.
“Seria coincidência que Óscar estivesse presente na morte de cada paciente? O episódio despertou a inquietação do médico, que se lembrou de uma citação de Einstein: “A coincidência é a forma que Deus tem de permanecer anónimo”. E Dosa começa a investigar o comportamento deste gato. Óscar era o único dos seis gatos do lar a ficar junto dos doentes em fase terminal, para consolo dos seus familiares.
Em 2007, David Dosa escreveu um artigo sobre este gato no jornal cientifico “ The New England Journal of Medicine e recentemente um livro “ÓSCAR – O dom extraordinário de um gato único”, editado em Portugal pela Caderno. Dosa não consegue encontrar explicações precisas para o comportamento deste gato. “Óscar encarna a empatia e o companheirismo. O trabalho dele é fazer companhia nas horas finais, faz parte da equipa” escreve o médico no prefácio do seu livro.