“A nossa herança cultural baseia-se em ressaltar aquilo que fazemos mal. Incute-nos que é impossível viver sem sofrimento. E, contudo, a Psicologia considera que em quase 90 por cento das situações sofremos de forma inútil e desnecessária.”
“O sofrimento, o envelhecimento, a doença, a morte existem. Não se trata de negar essas evidências. Mas há que buscar um equilíbrio em que se possa viver com naturalidade. Não temendo a morte, nem o envelhecimento e sabendo que a doença se pode superar. Não há que negar que existem dificuldades. Há que preparar a pessoa para as superar.”
“Nem tudo é sofrimento, nem tudo é felicidade. Há que ser objectivo e saber que é possível superar as dificuldades. É esse o caminho para a maturidade e para a felicidade.”
“… existem inúmeras situações em que sofremos de forma desnecessária. Não pelo que ocorre mas pelo que pensamos. É esta situação que podemos inverter, colocando o cérebro a nosso favor. O sofrimento existe, mas não há que dar-lhe a primazia.”
“A felicidade advém de nos sentirmos bem connosco próprios, de sabermos que existe coerência entre o que pensamos e o que fazemos.”
“O sentido de humor ajuda a viver melhor, a relativizar e a superar as dificuldades. O sentido de humor é o melhor baluarte que podemos ter. Connosco próprios e no relacionamento com os outros. Graças ao humor desfazem-se muitos problemas.”
“O sentido de humor procura o positivo nas circunstâncias, o ponto agradável em tudo, relativiza as questões. Costumo dizer que “se o humor se pudesse pagar os ricos compravam-no”. Uma pessoa que é capaz de rir de si mesma supera quase todas as dificuldades e tem uma vida mais prazenteira”.
“O pior que podemos fazer a uma criança ou adolescente é superprotegê-lo.” … “Não negar que existem dificuldades na vida, mas prepará-los para as enfrentar e superar”
Excerto da Revista XIS do Jornal Público, de 1 de Julho de 2006
Do livro “A Inutilidade do Sofrimento”, da psicóloga Maria Jesus Álava Reyes
Há já algum tempo que, todas as manhãs e nos finais da tarde, eu vejo da minha janela um casal a dar pequenas voltas. O homem, talvez na casa dos 60 anos, deve ter tido algum problema de coração porque me parece que não pode mexer o braço esquerdo. Com a mão direita apoia-se numa bengala, e muito vagarosamente, num andar arrastado, dando pequeninos passos, ele faz a caminhada a que se impôs. A esposa vai sempre a seu lado, dando-lhe ajuda, mas só quando vê que é necessário fazê-lo. Não sei quanto tempo demora o trajecto, mas posso imaginar, pelo que vejo, que quando este homem chega a casa deve ir muito cansado. Mas ele é perseverante, determinado, sabe que precisa de andar, de movimentar as pernas. Ele não nega o sofrimento que esse esforço lhe causa, é visível, mas faz o possível por superá-lo, esforçando-se por, a pouco e pouco, ir tentando vencer as suas incapacidades, lutando para, quem sabe, voltar a ser a pessoa que era antes da doença o ter atingido.
Lembro-me mais uma vez das palavras da psicóloga: “O sofrimento existe, mas não há que dar-lhe a primazia !”
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