domingo, 17 de agosto de 2008

NÃO DESANIMEMOS

Há pouco tempo, quando fazia o voluntariado no Hospital, passei por uma experiência muito gratificante. Entre o grupo de doentes que ali se encontrava nesse dia, dois deles, com quem já tenho conversado algumas vezes, porque se sentiam muito deprimidos, não quiseram conversar. Um outro ainda disse algumas palavras, mas eu notei que também não estava bem. Isto já tem acontecido, mas muito raramente. Compreendi perfeitamente a situação porque eu constato que, quando se luta com uma doença que muitas vezes teima em resistir à medicação que é administrada, as pessoas deixam-se levar pelo desânimo e começam a perder a coragem para lhe fazer frente. Nessa manhã, eu também não estava nos meus melhores dias e o ambiente, que eu sentia no ar um pouco pesado, contribuiu ainda mais para perturbar a minha disposição.
A minha atenção foi desviada para um doente com quem eu havia falado na semana anterior pela primeira vez. Estava com problemas e tinha resolvido vir falar com a médica. Aparenta ser uma pessoa que não se deixa vencer facilmente, com uma vida marcada por várias experiências que lhe deixaram lesões no corpo, mas com muita força para enfrentar a doença e continuar a fazer planos para o futuro. Era a segunda vez que nos encontrávamos. A dada altura, ele diz-me a sorrir: “ A senhora está triste!” Respondi-lhe : “Não! Talvez um pouco abatida porque vejo algumas pessoas, que aqui estão hoje, muito deprimidas”. Ele disse algumas palavras, confirmando que havia momentos em que se perde a coragem, mas insistiu : “A senhora hoje não está bem !” Olhando para ele, ri-me e respondi: “ Estou bem!”
Então ele, num tom de voz animador, disse-me: “ Vá, deixe sair esse lindo sorriso que a senhora tem!” Entretanto a médica apareceu e a nossa conversa ficou por ali. E eu fiquei a pensar que este doente, por momentos, esqueceu os seus males e foram aquelas palavras que ele encontrou para me animar!
Quantas vezes, no meu dia-a-dia, eu fico insensível a um olhar que deixa transparecer tristeza, uma palavra que exprime um sentimento de desânimo, uma atitude mais brusca que denuncia impaciência, porque estou demasiadamente preocupada comigo própria e não me apercebo dos problemas dos outros.
Há umas semanas atrás, uma das doentes, já de certa idade, recordava o sofrimento em que o seu marido tinha vivido antes de falecer e, chorando, lamentava estar ela agora também a passar por momentos bem difíceis. Então, surgiu de imediato um comentário expresso com bastante firmeza, por uma outra doente bastante mais jovem: “ Não somos só nós que sofremos, todas as pessoas sofrem!” E é bem verdade…

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