segunda-feira, 25 de agosto de 2008

SALTOS ALTOS

Quando a revista Tabu, do jornal Sol, me chega às mãos todas as semanas, procuro logo as penúltimas páginas VIVER PARA CONTAR de José António Saraiva. Leio-as duma ponta à outra e volto a lê-las depois com maior atenção deixando-me envolver no desenrolar do tema que o jornalista escolheu para essa semana. Confesso que não aprecio escritas muito elaboradas, ainda mais quando aparecem em revistas e jornais que serão lidos por pessoas de culturas diferenciadas e que devem poder compreender aquilo que vão ler. A minha preferência vai para este jornalista que sabe escrever estas páginas numa linguagem simples, um pouco irónica, inteligente, reveladora da veracidade do assunto que vai desenvolvendo ao longo da escrita e que se torna perfeitamente acessível a todos os leitores. Ele procura dar a sua opinião sobre determinadas realidades da nossa sociedade, que por vezes podem escapar aos mais atentos, porque, normalmente, não são assuntos que fazem notícia nos telejornais, nos noticiários da rádio ou nos cabeçalhos dos jornais.
Aqui deixo algumas passagens do artigo Saltos Altos, de 19/7/08, na revista Tabu, que li com muito agrado.

“A sociedade de consumo banalizou-se a tal ponto que perdemos em relação a ela o sentido crítico, aceitamo-la passivamente, deixámos de nos questionar sobre os expedientes que constantemente se inventam para nos obrigar a consumir mais e mais – mesmo em período de crise, como o que atravessamos.
Parece existir uma espécie de “central” que emite ordens e cria diariamente novas fórmulas, novos modelos, para incentivar o consumo”.

“Há trinta anos, a maioria das pessoas tinha um relógio. Os nossos avós tinham um relógio a vida inteira – um Ómega, um Tissot, um Longines, marcas que ficaram míticas por serem “eternas”. Quando se comprava um relógio era para sempre – não se trocava de relógio por dá cá aquele palha, tal como não se trocava de mulher ou de marido”.

“E o que acontece com os relógios sucede com os sapatos. Há 30 anos as senhoras tinham meia dúzia de pares de sapatos: sapatos de Verão e de Inverno, sapatos mais claros e mais escuros, um par de cerimónia.
Mas também isso mudou. Depois, no que respeita aos modelos: tão depressa se usam sapatos com longas biqueiras (que ficam vazias, porque os pés não chegam à frente, o que provoca a rápida deformação do calçado) como sapatos completamente arredondados ( fazendo lembrar os das chinesas a quem punham ligaduras para não deixar crescer os pés)”.

“Quem “inventa” isto? Como são lançadas as “ordens” que depois todos seguem? Às vezes, como disse, parece haver uma “central de comando” a emitir orientações – que as grandes empresas, as multinacionais, os estilistas se encarregam de pôr em prática.
Parece existir uma espécie de “Deus do consumo” que constantemente inventa novas formas de o expandir, de criar necessidades fictícias e modas absurdas que chegam a ridicularizar quem as adopta”.

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