sábado, 24 de outubro de 2009

RECORDANDO

A nossa filha veio passar duas semanas connosco e quando ela nos visita tentamos aproveitar ao máximo os dias para, em família, gozarmos da sua companhia. Há sempre muitas coisas para recordar, algumas até já esquecidas e que nos fazem voltar atrás ao passado, recriando o cenário de então. Vão-se fazendo comentários e rindo com algumas narrativas mais elaboradas, porque o passar dos anos vai omitindo alguns pormenores. Envolvidos num clima de alegria e de um certo saudosismo deixamos as horas passar.
É curioso, nestas ocasiões eu dou por mim a voltar atrás no tempo e a analisar uma ou outra atitude que tomei, sentindo, com uma certa mágoa, que talvez não tenha agido da melhor maneira. Com o passar dos anos e em muitos aspectos, eu passei a ter uma outra visão das coisas e questiono-me muito. Estes “conflitos interiores”, que por vezes me invadem, eu penso que são resultantes das constantes comparações que faço entre o passado e o presente, entre os padrões que orientavam a educação dos mais novos há uns anos atrás e aqueles que vejo serem hoje defendidos e adoptados e que me parecem pôr em causa a importância dos valores e a firmeza nas convicções.
Agora os meus filhos já estão criados e já não me pesa a responsabilidade da sua educação. Dou graças a Deus pelos filhos que tenho: pessoas bem formadas de quem muito me orgulho. Na educação que eu e o pai lhes demos fica-me a noção que fizemos o melhor que podíamos e sabíamos, dentro das condições de vida que nos cercavam e as convicções que nos orientavam. Sinto que é saudável para mim ir fazendo avaliações de quando em quando, nas atitudes que tomo, naquilo que fiz e não devia ter feito, nas decisões que tomei e por aí fora. É uma boa aprendizagem para viver o futuro com mais qualidade!

Noémia Neto, Figueira da Foz, 24 de Outubro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O MEU ADEUS

Estou muito triste…A minha grande amiga Noémia partiu para Deus no passado domingo, depois de dias de sofrimento no hospital. Ainda me brindou com dois grandes sorrisos no primeiro dia que a visitei. Fiquei enternecida ! Eles ficarão para sempre retidos no meu pensamento. Chegou à bonita idade de 93 anos ! Mas a doença foi debilitando a sua saúde e há mais de um ano que deixou de ser a mulher activa e lutadora, que se esforçava por aproveitar cada dia que Deus lhe concedia de vida, sempre com um sorriso no seu bonito rosto.
Perdi uma amiga que conquistei logo nos primeiro tempos, depois de ter chegado à Figueira da Foz, com 27 anos. A minha família foi aumentando e os nossos laços de amizade foram fortalecendo-se ao longo dos anos. O meu filho mais novo e o seu neto tornaram-se nos grandes amigos que agora são. A nossa amizade deu lugar ao grande afecto que hoje liga as nossas famílias.
Depois de um estreito e apertado abraço à sua filha mais nova, após o funeral, que nos uniu na saudade que a sua partida deixou em nós, eu disse-lhe: “ Tenho sentido tanto a falta da tua mãe, das nossas conversas à mesa do café, quando dávamos os nossos passeios…” Foram muitas as horas que passámos juntas e a sua ausência deixa uma grande lacuna na minha vida. São Amizades como esta que permitem que o nosso coração se abra, numa partilha de sentimentos, que vão da troca de ideias aos desabafos e às confidências mútuas.
Adeus Amiga! Tenho a certeza que um dia nos encontraremos junto de Deus.

“ Será p’ra mim glória sem fim!
Ver o Senhor assim como Ele é,
Será a glória das glórias p’ra mim!

Entes queridos lá encontrarei,
Prazer infindo ali gozarei;
Mas um só meigo sorriso do Rei
Será a glória das glórias p’ra mim!



terça-feira, 8 de setembro de 2009

AS REALIDADES DA VIDA

“Não, a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude.” Ramalho Ortigão

Depois de ter visto um determinado programa na televisão, concluí, e penso não estar longe da verdade, que quando falamos das “realidades da vida”, de uma maneira geral, estamos a olhar o lado negativo da vida, os infortúnios que a qualquer momento podem surgir. São encaradas como surpresas às quais não podemos fugir e, dependendo da nossa maneira de sentir, ou estamos sempre atentos com a percepção de que algo de mau vai acontecer, ou continuamos a viver, sem cepticismo, conscientes que iremos encontrar forças e coragem para enfrentar as “partidas” do destino.
De todo o lado surgem evidências que nos dão conta da sociedade estar a sofrer alterações constantes que se reflectem no nosso dia-a-dia. Sabemos que não estamos livres de em qualquer ocasião sermos obrigados a enfrentar situações de medo e provação. Todos nós já vivemos momentos de tristeza e dor com a partida de um ente querido, lutámos com a doença. Vivemos tempos de tensão e angústia que surgiram inesperadamente na vida. O desemprego que pode bater-nos à porta, a violência de que podemos ser vítimas a qualquer momento, consequências dos novos tempos que vivemos. Mas o que nós estamos sempre a constatar é que, com maior ou menor sofrimento, com mais ou menos optimismo, com a ajuda de Deus, vamos aprendendo a viver de novo a vida que ainda temos pela frente, dando pequenos passos, parando para depois recomeçarmos a caminhada. A disposição pode não voltar a ser a mesma, mas outros interesses vão surgindo e a luta pela sobrevivência tem de prosseguir porque a vida continua. As dificuldades da vida ajudam-nos a crescer na fé e a construir o nosso carácter.

domingo, 23 de agosto de 2009

UMA NOVA VIDA

A amiga, a quem já me referi algumas vezes, teve de deixar a sua casa e ir para um Lar de Idosos, depois de ter caído e ficado impossibilitada de abrir a porta à funcionária da instituição que lhe fornecia o almoço. Embora contrariada, já não teve mais forças para lutar e lá está. A pouco e pouco a sua saúde foi-se debilitando, perdeu as forças, e o seu já pouco ou nenhum interesse pela vida abandonou-a por completo, apesar de continuar a resistir a qualquer ajuda que as vizinhas e as amigas sempre lhe quiseram prestar.
É muito triste assistir à degradação da vida duma pessoa, especialmente quando a conhecemos há muitos anos e com ela convivemos.
Nem todos conseguem ultrapassar a solidão, sobretudo quando a saúde começa a faltar e se vai perdendo a disposição para comunicar com os outros. É meio caminho andado para se instalar a depressão e com ela o desinteresse pela vida, o descuido com a aparência e o arranjo da casa. Esta amiga isolou-se do mundo e nada, nem ninguém, conseguiram convencê-la a mudar o estilo de vida que escolheu para viver nestes últimos anos. O nosso coração está muito triste, questionamos os “porquês” que a levaram a um tal estado, mas não encontramos respostas. E ela, tê-las á !?
Agora tem quem olhe por ela, está cuidada, tem o sol a entrar pela janela do quarto, tem companhia, não está só. Ganhou uma qualidade de vida há muito perdida. Que Deus a ajude neste processo de adaptação por que está a passar, que ela se possa ir sentindo como mais um membro da grande família a que agora pertence. Não vai ser fácil ela aceitar a mudança de um momento para o outro, sem passar por emoções que as recordações do passado lhe trarão, mas também creio, pelo que me foi já dado observar, que não está indiferente aos benefícios que está a usufruir no seu corpo cuidado, na atenção que lhe dispensam e no carinho com que é tratada. Visitas não lhe irão faltar, estou convencida disso.
Força, Amiga, vamos sempre a tempo de aceitar a mudança !

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

HÁBITOS

As aulas de hidroginástica do Ginásio Clube Figueirense foram suspensas para um período de férias. Durante um mês não farei as minhas caminhadas até à piscina e isso vem quebrar uma das minhas rotinas da semana. Mesmo os mais avessos a hábitos estabelecidos não podem fugir a eles. Toda a nossa vida, quer queiramos quer não, gira à volta de rotinas, muitas delas são consequência de obrigações a que não podemos fugir. Depois há hábitos que herdámos da infância, pela educação que recebemos, muitos dos quais ainda conservamos. Cada um de nós vai-os desenvolvendo ao longo da vida, ao mesmo tempo que perdemos uns e adquirimos outros. É curioso que muitas vezes eles nos identificam, embora isso nem sempre nos traga qualquer benefício. Li há pouco tempo, na revista Sábado, a notícia de um caso passado no Reino Unido. Uma mulher de 85 anos vivia sozinha num apartamento de uma rua movimentada de Edimburgo e era conhecida da vizinhança porque passava na rua 4 vezes por semana, calçada com botas e mochila às costas, equipada para os passeios que costumava dar. Nos últimos 5 anos ninguém estranhou a sua ausência. A reforma continuava a vir para a sua conta bancária e as suas contas pagas através do banco. E foi passado esse tempo que o vizinho do andar de baixo se queixou por problemas de infiltrações surgidos no tecto e a falta de resposta da inquilina. A polícia teve de intervir e encontrou o corpo desta mulher sem vida. São situações quase inimagináveis, mas que, infelizmente, acontecem.
Há aqueles hábitos que se tornam rituais que cumprimos religiosamente. Eu sou uma pessoa de hábitos, que giro com uma certa rigidez, e sinto-me um pouco perdida quando a minha vida foge à rotina. Sou especialista em gestos que até podem passar despercebidos a quem me conhece e lida mais de perto comigo, que são reflexos involuntários dos quais eu própria nem me apercebo. Gosto muito da simetria, cada coisa no seu lugar, colocada de uma certa maneira. A toalha que está descaída de um lado, o armário com a porta entreaberta, a cadeira um pouco afastada da mesa, são situações que me obrigam a intervir de imediato. Cada doido tem as sua manias!
Infelizmente, há hábitos que se transformam em vícios, que prendem as pessoas nas suas malhas e podem arruinar as suas vidas, como o álcool e a droga. E aqueles hábitos que se vão perdendo pouco a pouco e levam as pessoas muitas vezes ao isolamento, ao distanciamento dos outros. Nestes casos é muito difícil qualquer tentativa de ajuda, de aproximação, porque não há receptividade nem abertura. A perda de hábitos acaba por levar à solidão que vai invadindo a vida dos idosos, dos esquecidos, dos marginalizados…
Não me posso esquecer: Em Setembro começam de novo as minhas aulas de hidroginástica !

quinta-feira, 16 de julho de 2009

RECORDAÇÕES

Há poucos dias reuniu-se a família no aniversário do nosso filho mais velho. Com jeitinho conseguiram sentar-se 16 pessoas à mesa para um almoço preparado pelo aniversariante. São momentos como este que enchem de alegria os nossos corações e há sempre tanto para recordar quando estamos juntos! Uma frase, que já não ouvia há muito tempo, surgida na animação da conversa, transportou-me ao passado:” Mamã, olha o meu irmão!”. Naquele momento, recordei as suas travessuras da infância, as quezílias, as queixas e lamúrias, as partidas, nem sempre bem aceites pelos visados, as emoções vividas por experiências partilhadas, algumas das quais, nós, os pais, estávamos longe de imaginá-las. As brincadeiras na rua, que às vezes terminavam em choro, mas que eram sempre as preferidas: uns pontapés na bola, as descobertas de novas aventuras, e por aí fora.
Lembro-me que o elevador do nosso prédio, dos primeiros nas redondezas, era procurado por toda a criançada do bairro e da que passava para as escolas. Apesar dos ralhos ou dum puxão de orelhas dado por algum vizinho mais irritado com toda aquela paródia, a miudagem não desistia. Era ouvi-los para baixo e para cima, a parar o elevador em todos os andares, numa algazarra constante. O pior é que, de volta em meia, éramos obrigados a usar as escadas, porque o dito elevador não resistia a tantas provações…
Hoje, se não estou em erro, há apenas umas três crianças nesta zona, mas procuramos todos manter as portas de entrada bem fechadas, receando visitas menos bem intencionadas. O elevador está mais silencioso e a sua manutenção mantém-se dentro das normas estabelecidas, sem chamadas de emergência. Vamos à janela, e a qualquer hora olhamos alguns carros procurando um lugar para estacionar. Os gatos passeiam-se tranquilamente nas traseiras, aguardando a hora da próxima refeição, que uma senhora da vizinhança tem sempre o cuidado de lhes proporcionar. As pombas passam o dia debicando aqui e ali, em perfeita confraternização com as gaivotas e os felinos. Um passarinho numa gaiola faz ouvir os seus trinados. Amanhã, serão estas as recordações que levarei deste presente e, graças a Deus, porque apesar das coisas menos boas da vida, vão surgindo sempre os momentos mais felizes, que me deixam gratas lembranças e me fazem sentir que tenho sido sempre muito abençoada com a família que tenho, com as amizades que fui criando nesta linda cidade que me adoptou há já muitos anos!

domingo, 5 de julho de 2009

VIVER O PRESENTE

Num programa recente da Oprah, quem assistiu viveu, certamente, com emoção a apresentação de alguns casos de crianças que desde o seu nascimento vivem com deficiências físicas que, só após operações difíceis e demoradas, têm, pouco a pouco, conseguido melhorar a sua qualidade de vida. Felizmente os avanços da Medicina têm permitido que às mulheres grávidas sejam feitos exames que podem já detectar, com alguma certeza, se o feto apresenta disfunções que venham a pôr em causa o seu crescimento normal, antes e depois do nascimento. Foi o caso apresentado de uma jovem mulher, que às 38 semanas de gravidez, lhe foi dito que o seu bebé era portador de Trissomia 18 e que as suas possibilidades de vida eram diminutas. Depois de confrontados com a realidade da situação, o casal tudo fez para, com alegria, levar a vida o mais normal possível, aproveitando todos os minutos que iriam poder gozar com o seu bebé. Pensando em outros pais, que pudessem estar a passar pelo mesmo, o pai começou a escrever todos os dias uma carta ao filho, descrevendo o que se ia passando. Mãe e pai faziam turnos para lhe darem o biberão, tarefa que demorava uma hora e meia, aliada a muitos outros cuidados que lhe iam mantendo a vida. As cartas continuaram a ser escritas, as fotografias encheram os álbuns e aqueles pais foram assim aproveitando cada dia da curta vida que o sei filhinho iria viver. Os seus três meses de vida foram sendo comemorados até à sua partida deste mundo com 99 dias… Mais de 3 mil fotografias ficaram para recordar a sua curta passagem pela vida! Sentiam-se felizes por terem desfrutado do lento mas precioso desenvolvimento do seu bebé!
De sua casa nos U.S.A. participavam no programa. Falaram da sua experiência, mostraram fotografias e contaram da importante colaboração dum amigo que lhes permitiu fazer um vídeo de tributo ao seu filho, que inclui as cartas e as fotografias. Esperam em breve o nascimento de um irmãozinho para o Ben. Quando a apresentadora do programa manifestou a sua admiração pela coragem que eles mostraram e a tristeza que certamente sentiam enquanto preparavam aquele vídeo, a mãe dizia a sorrir: ”Posso ficar triste depois. Tenho muito tempo para chorar”.
Aqueles pais viveram cada momento de partilha com o seu menino, agradecendo a Deus os 99 dias em que tinham sido uma família feliz, apesar de todas as dificuldades que iam surgindo e sabendo o que o futuro lhes reservava. Os momentos difíceis ajudaram a crescer e a partilhá-los com todos aqueles que possam ter acesso ao vídeo. Eles souberam aproveitar cada dia da melhor maneira, sem estarem preocupados em viver o amanhã.
“Posso chorar depois”…Uma lição para todos nós!

sábado, 30 de maio de 2009

AMIZADES

“Um amigo nobre e bom, nunca nos será definitivamente roubado, porque deixará um rasto de luz nas nossas vidas”.
Todos nós temos amigos com quem partilhámos muitos momentos da vida. Os amigos da infância, que cresceram connosco, companheiros de brincadeiras, colegas de escola; amigos mais chegados, com quem trocámos confidências, de quem nos tornámos inseparáveis. Mas, a pouco e pouco, cada um foi dando novo rumo à sua vida , fomos perdendo o contacto e hoje fazem parte das nossas lembranças do passado. Mas, felizmente, ainda há aqueles a quem continuamos muito ligados, embora não os vejamos com frequência. Ouvimos a sua voz no telefone, trocamos mensagens e de tempos a tempos passamos alguns momentos juntos numa boa conversa. São as grandes amizades que permanecem intactas, não importa a distância que nos separe ou o tempo que podemos passar sem nos vermos.
Mas há aqueles amigos que, em qualquer circunstância, estão sempre ao nosso lado, amigos carinhosos , compreensivos, afáveis, com quem sabemos que podemos sempre contar. Tenho uma amiga muito querida, com 93 anos. A nossa amizade foi-se fortalecendo com o passar dos anos. Recordo com um misto de satisfação e saudade as nossas conversas , num espírito de abertura e cumplicidade, sempre mantidas num relacionamento de delicadeza e respeito mútuo. Hoje, a sua idade e saúde, não permitem passeios pela cidade, nem amenos diálogos à mesa do café, mas a nossa relação de amizade irá manter-se até que Deus queira!
“ O mundo parece muito vazio, se só pensarmos em montanhas, nos rios e cidades…, mas se há alguém, em algum lugar, que pense em nós e sinta como nós e que, apesar da distância, está perto em espírito, então a Terra converte-se num jardim habitado.” Goethe.

sábado, 23 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

TRABALHO. E A IDADE ?!

Recordo-me de há alguns anos ter ficado muito admirada quando soube que um amigo meu se tinha reformado com 48 anos. Achei que com aquela idade um homem está no auge das suas capacidades, com suficiente energia e maturidade, além da experiência e conhecimento que adquiriu na área onde exerceu a sua actividade profissional. Retirar-se do activo, não me pareceu uma boa opção. Fui-me dando conta que ele não era um caso isolado, tendo conhecimento que muitas outras pessoas, por iniciativa própria ou a convite da entidade patronal, entram na pré-reforma depois de acordos feitos entre ambas as partes. Tudo bem, cada um é livre para decidir o que acha mais conveniente para o seu futuro, sobretudo quando tem a possibilidade de escolher e se desejar continuar a estar activo encontra sempre que fazer.
Nestes tempos de crise que estamos a atravessar a realidade é outra. As pessoas perdem os empregos, mas precisam de continuar a trabalhar para poderem satisfazer os seus compromissos e fazer face às necessidades do dia-a-dia. Não se pode viver com o mínimo condições quando não se tem fontes de rendimento. Uma grande parte das pessoas que têm vindo a perder os seus empregos, à partida já sabem que lhes vai ser muito difícil, ou quase impossível, encontrar trabalho, porque têm mais de 40 anos… E, isto acontece, porque os empregadores, que precisam de estar atentos à competitividade do mercado, apostam no rejuvenescimento do seu pessoal. A idade passa a ser um impedimento e assim se vai desvalorizando o trabalho dos mais velhos…
Passo a transcrever um trecho de José António Saraiva , na revista TABU, de 05/07/08 que diz:

“ A atribuição de trabalhos a jovens é boa em muitos casos – como é boa a conservação em certos lugares de pessoas com alguma idade mas que deram provas de manter a juventude de espírito, o gosto pelo trabalho e a abertura à mudança.
Desprezar os jovens por serem inexperientes é mau – como mau é dispensar prematuramente os mais antigos por serem “demasiado” experientes.
Como em tudo na vida, a verdade raramente está num extremo – está, normalmente, no equilíbrio. Um equilíbrio sábio, em que se aproveite a sabedoria e maturidade dos mais velhos potenciada pela energia e pelo entusiasmo dos mais novos.
Mesmo na arte, não há regras. Não nos esqueçamos de que, se Mozart compôs o Requiem com 35 anos, Saramago escreveu os seus melhores livros depois dos 60. Todas as fases da vida têm forças e fraquezas. O segredo é tirar de cada uma o melhor rendimento.”

sábado, 2 de maio de 2009

DIA DA MÃE

Num pequenino livro com pensamentos dedicados às mães, eu encontrei este, que diz : “Tanta doçura a mãe encerra que Deus para ter mãe deixou o céu e desceu à terra”.
Para muitos, Maria é alguém que, pelo facto de ter sido escolhida por Deus para ser mãe do seu Filho, se tornou num ser divino a quem prestam culto, dirigem as suas preces e fazem promessas que vão até ao sacrifício. Para nós, crentes evangélicos, Maria foi escolhida por Deus para, através do poder do Espírito Santo, conceber e dar à luz o Seu filho, o Deus feito homem, que desceu à Terra para anunciar aos homens a Boa Nova da Salvação e dar a Sua vida em resgate pelos nossos pecados. Entre todas as virgens de Israel, Maria foi a eleita por Deus para ser mãe de Jesus, porque Ele encontrou nela virtudes que a tornavam diferente de todas as outras. Como todo o ser humano, Jesus tinha de nascer de uma mulher, tinha de ter uma mãe. Embora Ele fosse divino, a presença da mãe a Seu lado, o amor, o carinho que dela iria receber, não podiam ser dispensáveis, pois Jesus iria crescer como todas as crianças.
Alguém disse que “a mãe é o ser que prepara na sua própria carne a pessoa humana destinada à eternidade”: Tarefa importante a dela!
O que é para nós uma mãe? Qual é a imagem que temos da nossa mãe? E de nós, mulheres, que somos mães? Nestes últimos tempos eu faço constantemente avaliações à minha vida. Transporto-me ao passado, volto de novo a ser criança e jovem, lembro-me de situações que vivi e recordo com muita saudade a minha mãe e sinto que falhei algumas vezes como filha. Certamente que isto se passa com todos nós quando atingimos uma idade mais avançada e vemos a vida com outros olhos.
Quando os meus filhos eram crianças eu preocupava-me com o seu bem-estar, com a sua felicidade, mas hoje, os meus cuidados não diminuíram, parece até que aumentaram. Continuo a estar atenta, sofro com as suas tristezas e alegro-me com as suas alegrias . Embora eles já sejam independentes, com família constituída, a minha experiência de vida e também as transformações constantes que vou observando na sociedade em que vivemos, têm-me tornado mais sensível e mais receosa ao mesmo tempo. Mas qual é a mãe que não se preocupa com os filhos, mesmo quando eles já são homens e mulheres?!
Todos nós conhecemos mulheres que criaram sozinhas os seus filhos. Algumas tiveram a ajuda dos seus familiares, outras, para fazer face à vida, deixaram-nos em colégios onde permaneceram até serem jovens. Outras, viram-se obrigadas a entregar os filhos a outras pessoas, para que eles pudessem gozar dos cuidados que elas não lhes podiam dar, e assim foram-se quebrando muitas vezes os laços afectivos. Mas isso continua a acontecer nos nossos dias.
Há muitos anos conheci uma mulher que tinha um filho pequeno para criar, uma criança doente, que sofria de asma. Andava de casa em casa a buscar lavagem para os porcos que criava. Trabalhava também como empregada doméstica e, assim, iam sobrevivendo. Algum tempo depois, começou a trabalhar na nossa casa. Acompanhei de perto a sua labuta pela vida. Durante anos e anos, ela lavou chãos, lavou roupa, cozinhou nas casas onde trabalhava. Durante os meses de verão vendia bolos na praia. Calcorreava o areal duma ponta à outra, dobrada sob o peso dos baús, debaixo do calor e sol. Nunca lhe ouvi um queixume, uma palavra de revolta contra a vida que lhe era madrasta. Foi uma segunda mãe para os meus filhos, a quem tratou sempre por “meninos” (foi assim que tinha aprendido quando, em nova, começou a trabalhar…). Era uma pessoa muito educada. Nunca lhe ouvi uma palavra menos própria.
Passados anos, o filho estabeleceu-se em Lisboa, mas o negócio corria-lhe mal. “Ele nunca teve sorte, já nasceu sem ela…” dizia-me ela com amargura. E lá ia ela de quinze em quinze dias para Lisboa, tratar-lhe da roupa, cuidar da casa e escutar os seus desabafos, pois ele vivia só. Algum tempo depois mudou-se definitivamente para casa do filho. Um dia, falando com o Tó, como é conhecido, ele dizia-me: “Eu não tenho sido um bom filho, não lhe tenho dado a ajuda que ela precisa. A vida tem-me corrido mal e os problemas sucedem- se. Ela é que tem sido o meu amparo. Mesmo que não lhe queira falar das minhas dificuldades, ela adivinha-as e sofre muito com isso”. Lembro-me deste pensamento: “Ó mãe, perdoa-nos por não te termos dedicado o amor que mereces, tu, que vives exclusivamente para nós e por nós vais morrendo dia-a-dia”
A Senhora Lídia faleceu há perto de dois meses, já com os seus 90 anos. Sozinho, o filho cuidou dela até ao fim.
Mãe e filho, exemplos a registar numa sociedade tão falha de valores! Presto a minha singela homenagem a uma grande Mãe e a um bom Filho !
Quero deixar aqui um esclarecimento: Os cristãos evangélicos celebram há quase 100 anos o “Dia da Mãe” no 2º Domingo de Maio. Em 1912, numa comunidade evangélica da cidade de Filadélfia, nos USA, um grupo de jovens juntou-se para homenagear a mãe de Ana Jarvis, uma jovem que tinha perdido a sua mãe. Outras igrejas abraçaram a ideia e a 10 de Maio de 1913 realizou-se a primeira comemoração oficial do “Dia da Mãe” e no ano seguinte foi declarada a celebração deste dia em toda a América do Norte. Outras igrejas evangélicas ,pelo mundo fora, foram reservando esta mesma data para homenagear as suas mães, assim como também muitas igrejas católicas romanas. No nosso país os católicos romanos celebram este dia no 1º Domingo de Maio.

sábado, 18 de abril de 2009

Absolutamente fantástico e comovedor

Sarah Boyle - "I Had A Dream" - Britain Got Talent - 9 de Abril 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

PARA REFLECTIR

“Um facto: Portugal é um dos países do mundo que tem a população mais envelhecida. Outro facto: são cada vez mais os idosos abandonados pela família. Com a desumanização da sociedade, os pais são considerados um estorvo para muitos. Por isso se assiste durante as épocas do Natal e das férias a um dos actos mais hediondos dos tempos modernos. Filhos que abusam, por exemplo, na medicação dos pais para que estes se sintam mal e fiquem internados durante as festas. Diz muito de quem o faz …
Além desses períodos especiais, também durante os restantes dias do ano os progenitores, quando deixam de ser auto-suficientes, são abandonados. Quem pode financeiramente trata de os colocar num lar, não se preocupando com a qualidade do mesmo. Longe da vista, longe do coração. Já quem não tem dinheiro procura passar bem ao lado da casa onde cresceu e viveu toda a infância e onde continuam a viver os pais. É uma chatice, pensam. Acredito que muitos daqueles que têm tal comportamento terão um final idêntico. Se são esses valores que cultivam, hão-de colher da mesma semente.
Não perceber que a vida é um ciclo em que nascemos, crescemos e ficamos outra vez crianças é algo de aterrador. Tenho visitado diversos hospitais e fico sempre com um nó na garganta quando vejo tantos e tantos idosos abandonados pelos familiares. Pessoas que se sentem perdidas e para quem um pequeno gesto representa muito. É impressionante a alegria dos doentes quando aparecem as senhoras da bata amarela com um chá quente ou um pacote de bolachas. Nesta edição damos conta dom trabalho da equipa de Apoio Domiciliário 24 Horas da Misericórdia de Alhos Vedros, concelho da Moita. Alguns são autênticos heróis no serviço que prestam. Sete vezes por dia, os idosos acamados são visitados, sendo-lhes trocadas as fraldas e dada comida. Haverá quem o faça por dinheiro, mas há seguramente mentes brilhantes nesse campo.”
(da Revista “TABU”, de 28.03.09, Vitor Rainho)

sábado, 28 de março de 2009

DEIXAR VIVER

No meu blog do dia 14 de Julho falei duma senhora amiga , já idosa, que recusa qualquer tipo de ajuda que as amigas lhe querem prestar. Continuamos a chamar-lhe a atenção para que ela procure viver com mais qualidade de vida, sair da solidão a que chegou abrindo-se ao convívio com as pessoas. A sua saúde tem vindo a debilitar-se, consequência duma doença oncológica que ela se recusa tratar. A televisão, que era a sua distracção e companhia, o Inverno rigoroso partiu a antena do telhado e deixou de funcionar. O cabelo cai-lhe enfraquecido nos ombros, mas não vai cortá-lo. Passou a receber há alguns anos o apoio duma instituição de solidariedade que lhe fornece o almoço e lhe poderia também tratar da limpeza da casa e da lavagem da roupa, mas recusou. Estes e muitos outros problemas, que não interessa aqui mencionar, deixam-nos tristes e preocupadas. De novo procurámos ajuda junto dos serviços de saúde. Esta semana foi visitada por um funcionário da Delegação de Saúde e uma enfermeira do Centro de Saúde, que lhe chamaram a atenção para a necessidade urgente de ir ao médico, de cuidar da sua higiene e da limpeza da casa, mas ela mostrou-se peremptória na recusa de qualquer ajuda, manifestando descontentamento pela ingerência na sua vida. Disse-lhes que tem amigas que a visitam e a aconselham ( mas só a muito poucas ela franqueia a porta para uma curta visita, mesmo que estas sejam esporádicas …). E não podem ser tomadas outras medidas porque ela está ainda no pleno gozo das suas faculdades. É o que nos dizem.
Está, pois, afastada a hipótese de continuarmos a criar expectativas na melhoria da qualidade de vida desta nossa amiga, embora elas fossem cada vez menos. Iremos continuar a visitá-la e deixar que as nossas palavras lhe levem algum consolo e a reanimem, porque, como ela diz “Eu não sou feliz e nem sei o que me poderia fazer feliz…”
Foi-nos dito que, se o seu estado de saúde piorar, basta contactar a sua médica de família que ela logo lhe prestará os cuidados necessários. É muito bom saber que podemos contar com a sua ajuda.
Pelo que nos informaram, há muitas pessoas que vivem em piores condições e não têm quem se preocupe com elas. Porém, a nossa amiga pode contar connosco, assim ela o deseje.
Deixo aqui duas estrofes dum cântico que ela gosta muito:

Com Tua mão, segura bem a minha,
Pois eu tão frágil sou, ó Salvador.
Que não me atrevo a dar nem um só passo,
Sem Teu amparo, meu Jesus Senhor!

Com Tua mão, segura bem a minha,
E pelo mundo alegre seguirei;
Mesmo onde as sombras caem mais escuras,
Teu rosto vendo, nada temerei !

sábado, 7 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Foi a 8 de Março de 1857 que as operárias de uma fábrica têxtil em Nova Iorque iniciaram, com manifestações de protesto, a sua luta pela redução do horário de trabalho e melhoria de salários. Em 1910, com a participação de pessoas de alguns países da Europa, foi decretado o Dia Internacional de Trabalho e, mais tarde, a Organização das Nações Unidas oficializou o ano 1975 como o Ano Internacional da Mulher.
De então para cá muitas mulheres em diferentes áreas têm lutado para que a mulher tenha um papel mais activo num mundo dominado pelos homens. Existem leis que protegem a mulher, concedendo-lhes direitos e igualdade de oportunidades, mas o facto é que ocorrem ainda descriminações tanto a nível social, como nos locais de trabalho e na família. Ultimamente, por exemplo, têm-nos chegado notícias do aumento da violência doméstica e sabemos também da prioridade dada aos homens em algumas empresas pela desvantagem que vêem na contratação de mulheres grávidas com a perspectiva de faltas ao trabalho para assistência aos filhos. Há ainda a ideia da fragilidade das mulheres e da sua maior sensibilidade em campos onde a força e a frieza são exigidas. Mas as mulheres são bons exemplos da duplicidade de funções, trabalhando fora de casa e cuidando da família, corajosas quando enfrentam situações difíceis, com capacidades indiscutíveis na sua entrega às causas que defendem, reconhecidas nas funções que desempenham pelos seus méritos e tantas coisas mais que as caracterizam.
Temos também a política, onde os homens levam a vantagem. A propósito, já tenho pensado muitas vezes como resultaria a experiência de um país governado só por mulheres, o nosso, por exemplo. Há uma certa tendência , falo em excepções, claro, de algumas mulheres em cargos de liderança, se tornarem frias e abusarem dos poderes que lhes são conferidos, talvez como forma de vincarem a sua posição de minoria. Tenho a certeza que, no Parlamento, o ambiente seria de agitação constante, cada membro a intervir sem esperar pela sua vez e a presidente da Assembleia de mãos na cabeça, sem conseguir fazer-se ouvir. Isto com mais alguns pequenos itens à mistura…Mas, como da discussão nasce a luz, os resultados iriam surpreender os portugueses. Quem sabe se teríamos leis mais favoráveis ao desenvolvimento do país e às condições de vida dos cidadãos. Posso já imaginar os gritos da multidão: “Mulheres à frente, o povo está contente”!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O COMÉRCIO TRADICIONAL

Normalmente quando ando pela cidade há determinadas ruas que fazem parte do meu percurso habitual e que, por sinal, são aquelas onde mais se concentram as pequenas lojas que constituem o comércio local. Algumas já vieram substituir outras mais antigas, embora haja ainda algumas , pertencentes a comerciantes já idosos, que com amabilidade e respeito se empenham em bem servir os seus clientes. O movimento que tinham, especialmente no verão, com a vinda dos turistas espanhóis , por exemplo, é muito reduzido, mas muitas pessoas ainda sabem onde se dirigir quando procuram determinados artigos de referência dessas lojas.
Os tempos mudaram e a moda é actualizada em cada estação, no que se refere ao vestuário, com as novidades ditadas pelas grandes marcas e copiadas com algumas modificações e qualidade dos materiais. Mas o mercado está fraco e é com tristeza que eu passo e vejo as lojas desertas e nem mesmo as inevitáveis compras de Natal lhes trazem o movimento que, há muitos anos atrás, obrigava o pessoal a andar numa roda viva, atendendo cliente atrás de cliente. Acontece que as preferências pessoais foram mudando e substituídas por escolhas mais acessíveis em termos de custos, que, conjugadas com os novos padrões da moda, foi levando os interessados a procurarem as grandes superfícies, onde a diversidade é referência e permite uma maior possibilidade de escolha. Depois, isto falando em termos locais, o mercado chinês invadiu a nossa cidade. Se eu não estou em erro, há, pelo menos, 11 lojas chinesas, algumas bem perto umas das outras, abertas todos os dias do ano, salvo uma ou outra excepção. E uma coisa é certa, elas vieram para ficar e têm todo o direito de se expandirem, até porque gozam de vantagens derivadas de acordos feitos entre o seu governo e o nosso. Oferecem uma diversidade de produtos que vendem a preços mais vantajosos, embora a qualidade seja uma desvantagem. Mas estou quase certa que estas lojas não conseguem escoar a mercadoria que vão acumulando nos corredores e prateleiras.
Quando vejo uma loja nova fico apreensiva e chego a pensar que não foi uma boa opção do seu proprietário. Porque o que normalmente acontece é não conseguirem manter-se abertas por muito tempo. Houve investimento, competitividade na oferta, mas o consumidor , ou por indiferença ou pela necessidade de cada vez mais moderar as suas despesas e procurar mercados alternativos, não ajuda a que se mantenha o negócio.
As pequenas lojas a que nos acostumámos parecem ter os dias contados. Li num semanário que “no comércio tradicional, por cada loja que abre, fecham cinco”. Prevê-se que “30 mil pessoas podem perder o emprego devido ao fecho de lojas, que deverá agravar-se este ano” (SOL, 24.01.09). Não é uma situação nova, ela tem vindo a agravar-se de ano para ano, salvo raras excepções, que sempre as há, e não se vêem perspectivas de um retorno aos tempos áureos do comércio tradicional. Cada dia se vão criando novas formas de mercado competitivo. E as pessoas que hoje correm para as grande superfícies, onde se habituaram a fazer as suas compras, amanhã, quem sabe, não irão dar preferência às lojas tradicionais , porque fizeram do seu estilo a sua referência e apostaram na qualidade da sua mercadoria? O desafio e a esperança num futuro melhor podem servir de estímulo a uma nova era do comércio tradicional!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Está bem...façamos de conta

"Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos".

Mário Crespo, JN

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"OS JORNALISTAS RELATAM A VERDADE ?"

Numa das suas habituais crónicas na Revista TABU, José António Saraiva debruçou-se sobre a actividade jornalística e todo um conjunto de explicações que justificam, hoje em dia, as notícias que chegam ao público. Pela minha parte e com todo o respeito que me merecem, eu classifico os jornalistas, de um modo geral, como “criadores de notícias”, e que me levam muitas vezes a pôr em dúvida a veracidade das mesmas. Interrogo-me se haverá necessidade de dar tanto ênfase a situações que ridicularizam e chegam até a pôr em causa a honorabilidade das pessoas atingidas. Os comentários de José António Saraiva ajudam-nos a compreender as razões que explicam a manipulação da realidade.

“Podemos ou não acreditar nos jornais? Podemos ou não confiar nos jornalistas? O que os jornais dizem reflecte ou não reflecte fielmente a realidade?
Nunca haverá consenso sobre estas questões.
Os políticos dizem-se invariavelmente prejudicados pelo que os jornais, as rádios e as televisões escrevem ou dizem. E, em geral, quem é objecto de notícias ou comentários na imprensa considera-se injustiçado. É muito raro ouvir alguém concordar com uma notícia ou um comentário a seu respeito. Há sempre uma correcção a fazer, uma objecção a colocar, qualquer coisa que está a mais ou a menos.

“O que verdadeiramente importa – e sobre isso fala-se estranhamente muito pouco – é o seguinte: os meios de comunicação social, pela sua própria natureza, darão sempre uma imagem errada, distorcida, da realidade.
A realidade e o modo como os “media” a reflectem serão sempre duas coisas distintas.
Porquê?
Porque aos “media” não interessa a regra – interessa a excepção. Aquilo que é banal, que é rotineiro, não é notícia: a notícia é o que surpreende, o que escapa à rotina.
Ora a realidade faz-se da regra e não da excepção, do que é comum e não do que é incomum.”

“ Mas quantas “realidades” muito longe da realidade, feitas de excepções, de situações incomuns, os jornais, as rádios e os canais de televisão não constroem a toda a hora?”

“Assim, quando se diz que os “media” não reflectem a realidade, tal é inteiramente verdade só que não tem que ver, necessariamente, com a maior ou menor seriedade dos jornalistas. Tem que ver com a própria natureza dos “media”.
Se o que é notícia é a excepção, é a anormalidade, é o que é invulgar, como podem os “media” reflectir fielmente a realidade?”

“Ao seleccionar só o que é anormal, a imprensa, a rádio e a televisão dão uma imagem falsa da realidade.
Claro que a competição na área mediática, que hoje é brutal, agrava esta tendência.
Hoje os jornalistas procuram as notícias com mais sofreguidão, escrevem-nas com mais colorido, titulam-nas com mais agressividade – porque é essa capacidade de causar surpresa que vai marcar a diferença.
No impacto que as notícias possam causar está hoje muitas vezes o segredo do sucesso ou insucesso de um dado meio de comunicação.
E, portanto, é muito tentador para um jornalista sacrificar a verdade para não perder uma boa história.
Mas, repito: o importante é perceber que a distorção da realidade está na própria natureza dos “media”.


sábado, 17 de janeiro de 2009

SALÁRIOS, ATÉ QUANTO ?

No programa Fórum, transmitido durante a semana na rádio TSF, os ouvintes são convidados a participar, fazendo os seus comentários, sobre um tema da actualidade. Na semana passada, após a confirmação da entrada em recessão do nosso país, um dos participantes, depois de várias considerações sobre o que deveria ser feito para atenuar a crise, propunha que não fossem atribuídos salários superiores ao do Presidente da República. Posso imaginar, se isso fosse realmente estabelecido, qual seria a reacção dos gestores de algumas empresas públicas , que auferem salários exorbitantes, alguns beneficiando já de boas reformas e a acrescentar ainda as regalias dum carro à disposição, cartão de crédito, subsídios generosos quando se deslocam em serviço além de outros que nos escapam. Tudo isto totalizará uma quantia que ultrapassa em muito o salário atribuído ao chefe da nação. Certamente que ao serem concedidos esses cargos foram tidas em atenção o nível das suas qualificações académicas, as provas já dadas das suas capacidades de trabalho e a esperança de poderem vir a ser uns bons profissionais. Mas será que isso obriga a que lhes sejam pagas remunerações tão elevadas?!
É de considerar também os enormes salários que alguns jogadores de futebol recebem, especialmente os que jogam em grandes clubes do país, pois constituem uma afronta para todos aqueles que têm de trabalhar toda a vida para conseguirem uma reforma que lhes dê alguma segurança na velhice, e mais ainda, para aqueles que nem isso conseguem … E isto, não tendo em conta os prémios, as campanhas publicitárias que fazem, etc. etc. E estes ganhos são justificados alegando-se que são obrigados a deixarem os relvados muito cedo. Tenho imensa pena deles !!! E o dinheiro que investem, os negócios em que se envolvem, as quantias que depositam nos bancos, não lhes garantem um futuro confortável, continuando a manter o nível de vida a que se habituaram? Só se foram perdulários e gastaram sem pensar no dia de amanhã.
O abrandamento da economia, que se tornou numa crise global, vai levar ao encerramento de mais empresas e, consequentemente, ao despedimento dos seus trabalhadores ou à redução de postos de trabalho. E o enorme fosso entre ricos e pobres, que já se verificava no nosso país, vai aumentar e agravar as situações de pobreza que a pouco e pouco irão surgindo, afectando uma boa parte da nossa população.
Há sempre um conjunto de razões que irão justificar a existência da pobreza no mundo, nos seus variados escalões. Nem todos têm capacidade para orientar as sua vidas, outros, as adversidades fazem-lhes perder a vontade de lutar, e quantos não levam uma vida de trabalho árduo e nunca conseguem os meios para poderem viver com dignidade. E há aqueles que se recusam a trabalhar e, a pouco e pouco, as suas vidas vão-se degradando. Mas agora estamos perante uma nova pobreza, que são todos aqueles que, de um momento para o outro, perderam os seus empregos e vêem as suas vidas destroçadas pela incapacidade de poderem continuar a fazer face aos seus compromissos e a sentirem que se tornam poucas as possibilidades de voltarem a ter um trabalho estável. Em princípio, terão direito ao subsídio de desemprego, ao rendimento mínimo, mas só por um período de tempo. E depois, se não conseguirem voltar a equilibrar as suas vidas, que perspectivas podem ter para o futuro, que reforma receberão na velhice? Entretanto, aqueles que recebem os tais salários milionários, continuarão a viver desafogadamente, com ostentação até, e sem preocupações no futuro.
Li há momentos na Revista Visão desta semana, que os inquiridos da primeira sondagem do projecto “Nós, Portugueses” dizem que um salário de 5000 euros é de milionário; um de 560 euros marca a fronteira da pobreza. Qual é a reforma mínima em Portugal? Quantos já estão no limite da pobreza? E quantos mais a atingirão? Quem vai ajudar a resolver esta situação? O Estado, que atribui grandes salários aos seus gerentes? Tantas interrogações para tão poucas certezas…


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Os Pequenos Ditadores

Carta da Semana
Expresso