quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DESPEDIDA

Há já algum tempo que a escrita tem vindo a espaçar-se, talvez por falta de disposição para encontrar assuntos que suscitassem algum interesse aos leitores. Entendo que chegou a altura de me despedir de todos vós. Tudo tem o seu tempo.
Gostei muito da experiência. Sentia sempre grande prazer quando conseguia dar sentido às minhas ideias e partilhá-las. Obrigada a todos aqueles que ao longo de dois anos e alguns meses foram visitando este blogue.
Que Deus fique convosco.
Matilde

domingo, 5 de dezembro de 2010

FALA O ESCRITOR NUNO LOBO ANTUNES


“Na história da minha existência estão cravados os anos que passei nos EUA como especialista em Neuro-Oncologia pediátrica. Após sete anos de intensa vida hospitalar, em que a violência das emoções atingia, todos os dias, dimensões de drama, a vida surge distorcida. Era um dia-a-dia de derrotas. Em que mesmo as vitórias não podiam ser inteiramente celebradas, porque a eminência de uma recaída pairava até ao fim da vida. Lembro-me que de férias em Portugal, admirava as crianças a brincar na praia porque já me tinha esquecido de que podiam ser felizes e saudáveis. Em cada cara buscava sinais de dor, em cada corpo estigmas de quem sofreu os efeitos da doença ou do seu tratamento.
Muitos me perguntavam como era possível conviver diariamente com o desgosto. A resposta é simples: é um privilégio poder conhecer a humanidade no seu melhor, na Coragem, mas sobretudo, no Amor. Os médicos e enfermeiras com quem trabalhava eram santos, porque, como alguma vez ouvi, os santos não se vêem todos da mesma maneira.
Quero-lhes agradecer. A todos. Falo dos doentes que durante anos tive o privilégio de conhecer e de tratar, e de quem tanto recebi. Foram-se os nomes, na memória restam imagens, como fotografias que o tempo, pouco a pouco desvanece.

EPÍLOGO
Todas as histórias merecem um fim. Ponto final que sossegue, garantia de que a vida prossegue, de que a narrativa não passa por nós. É estranho, mas cada vez mais me dou conta de que ao passar esta curva estou na recta final. Da vida claro, e que estas histórias me dizem respeito, e que ao fechar o livro, me fecho a mim. Mais leve, é certo, mais livre também.
Cada página que escrevo vai numa garrafa de náufrago lançada da praia. Carta solitária suplicando resgate. Uma vida à deriva. A outra praia qualquer chegará a mensagem. Alguém que passeia, curioso, abre a garrafa, lê a carta e, espantado, vê-se ao espelho e reconhece o autor.
É preciso afirmar aquilo em que se acredita. É preciso usar as grandes palavras: fé, amor, vergonha, coragem. É preciso dizer que a paixão, mais que a razão, redime e nos torna em santos.
E sem pudor dos afectos, confessar que sinto muito.”

“Alma a nu, sentimento despido de pudor.”

“O amor como razão de ser e de viver.”

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BREVES CONSIDERAÇÕES DA MATILDE

Demorei algum tempo a ler o livro SINTO MUITO, faltava-me a coragem para virar as folhas. Deixava passar alguns dias e retomava a leitura, e, a pouco e pouco, fui-me deixando envolver pelas experiências relatadas. Há uma frase na capa do livro que me prendeu a atenção: “A vida é o tempo entre parêntesis”. A vida é o percurso mais ou menos limitado entre o nascer e o morrer, è indefinição, expectativa, a qualquer momento podemos ser surpreendidos com os imprevistos. Vivemo-la na rotina do dia-a-dia, com as recordações do passado e as incertezas do amanhã. As histórias de vidas dolorosas contadas neste livro por quem as viveu de perto, tocam a sensibilidade de qualquer um de nós, sobretudo quando os pacientes são crianças ou jovens. Procurar encontrar-se explicações para o sofrimento e assistir-se ao desmoronamento de projectos e ideais que dão continuidade à vida, é muito difícil de aceitar… À medida que ia lendo o livro fui tomando consciência dos sentimentos de revolta criados pelo desânimo e a incapacidade de conviver com as pequenas vitórias conseguidas e as muitas batalhas perdidas. A pouco e pouco vão-se criando defesas. O conformismo, que vai levar os pacientes e os familiares a aprenderem a viver um dia de cada vez, tentando acalmar assim, as incertezas do amanhã, mas que é logo combatido com o redobrar de forças e de ânimo quando os sinais apontam para um recuperação. De novo volta a vontade de sorrir, de fazer planos, de agradecer a Deus o milagre, quando muitas vezes já se tinha perdido a fé, porque vai haver de novo “tempo” para continuar a viver!
“Neste mundo tudo tem a sua hora; cada coisa tem o seu tempo próprio. Há o tempo de nascer e o tempo de morrer; o tempo de chorar e o tempo de rir …” (Livro de Eclesiastes 3:1,2,4).

domingo, 28 de novembro de 2010

"SINTO MUITO"

É o livro de Nuno Lobo Antunes , especialista em Neuro- Oncologia pediátrica, com textos que relatam experiências que ele viveu ao longo da sua carreira. No prefácio , de António Damásio, este diz : “SINTO MUITO é um título fabuloso, que nos remete, desde logo, para a prosa muitas vezes feliz e rigorosa do autor. Apesar de o cenário ser predominantemente nova–iorquino, a matéria é filtrada por uma sensibilidade portuguesa, tanto emocional como linguística, que a torna nova e sedutora. Quando é sincera, a expressão “sinto muito” não significa o mesmo que “lamento”. Esta última é uma expressão formal de lástima, a primeira acentua um sentimento devastador de perda.
A primeira vez que encontrei o Nuno Lobo Antunes, por impossível que pareça, foi há cerca de trinta anos, era ele ainda estudante de Medicina. Na altura, convencido que estava da minha capacidade de julgar as pessoas, previ-lhe uma carreira brilhante. Será possível insistir na justeza da previsão?
No entanto, não foi fácil, de início, ler este livro maravilhoso. De alguma forma, os ensaios lêem-se como se de “memórias” se tratassem, e entrar nas memórias de alguém que se conhece é o mesmo que ouvir, de forma acidental, uma conversa que não nos é dirigida. Transgredimos, violamos propriedade privada, e a esta infracção associa-se um sentimento de embaraço e de culpa. Ao pensar melhor, é-nos evidente que tais sentimentos não se aplicam. O desejo do autor é de que os seus relatos sejam “como se” ouvidos sem querer, as suas missivas lidas “como se “ por engano.
Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.”
Voltarei mais tarde a abordar este livro.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

NOTÍCIAS

Nos últimos tempos tenho estado afastada da escrita, mas por motivos justificáveis. Recebemos a visita da nossa filha e uma neta, que vivem na Alemanha, e os dias que passamos juntos são sempre poucos para matar as saudades. Logo a seguir à sua partida, a notícia da morte, em condições trágicas, dum familiar de amigos nossos e irmãos na fé, membros da Igreja Evangélica Presbiteriana, que frequentamos, deixou-nos muito perturbados. Seguiram-se dias de tristeza e interrogações. Porquê, Senhor? Nestes momentos é tão difícil encontrar palavras que ofereçam o conforto emocional que aqueles que sofrem precisam de ouvir… Em alturas como esta, a nossa fé fica mais fragilizada, mas acabamos por ter de aceitar os acontecimentos porque não encontramos explicações para as nossas dúvidas . A vida continua e vamos ter de estar preparados e conseguir encontrar forças para enfrentarmos, a qualquer momento, os desgostos e as dificuldades, que sempre irão surgir, e disposição para sabermos aproveitar os momentos bons da vida. E são as palavras do apóstolo Paulo, ainda que difíceis de aceitar, que irão dar novo ânimo e consolo aos corações atingidos pela dor da perda do seu ente querido: “ Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”
Por último, fui operada a uma catarata no dia 3 deste mês. Foi uma operação rápida, mas incomodativa. Graças a Deus correu bem! E agora, aqui estou eu, procurando seguir à risca as recomendações do médico, até porque o meu marido está sempre a recordar--mas: “Não baixes a cabeça, não faças esforços” e muito empenhado em cumprir com rigor as tarefas domésticas de que se incumbiu!
E por hoje é tudo .

terça-feira, 21 de setembro de 2010

NOTÍCIAS

Há já algum tempo que não tenho notícias tuas, mas posso imaginar que continuas no teu cantinho, saindo de manhã para tomar a bica e pouco mais. Neste aspecto somos muito parecidas. No último ano, pelo menos tenho levado os dias vencida pelo peso da rotina diária que teima em instalar-se, sem que eu consiga muitas vezes ter a vontade e o bom senso necessários para saber aproveitar melhor o tempo que tenho livre e resolva sair de casa e arejar. Quando há dois meses me encontrei contigo em Monte Real, este assunto veio à conversa, lembras-te? Falámos dos pretextos que arranjamos para contrariar as nossas boas intenções, seguidas de arrependimento por voltarmos a desperdiçar a vida. Realmente quando criamos determinados hábitos começamos a ficar desmotivadas e torna-se difícil encontrar novos interesses ou retomar alguns que fomos perdendo e que até recordamos com um certo saudosismo. São sentimentos que nos perturbam e que nem sempre nos ajudam a tomar as melhores decisões. Lembras-te da Inês ? Estava sempre pronta para a brincadeira ! Nos últimos anos temo-nos encontrado algumas vezes. Tem problemas com as pernas e anda com dificuldade, mas só te digo que apesar disso não pára. Mantém-se activa nas obras sociais em que está envolvida, tem um grupo de amigas que a desafiam para almoços e passeios de carro. Anda sempre no “laró”, como ela costuma dizer. A alegria é boa conselheira e encoraja as pessoas a irem em frente. Mas nem todos somos iguais…
Tenho estado para aqui a divagar quando o melhor seria voltarmos a encontrar-nos e continuar a conversa interrompida da última vez que estivemos juntas. Vem até cá passar uns dias. O Outono promete dias de sol e temperaturas amenas. Podemos ir dar uns passeios pela marginal e comer um geladinho, que tu tanto gostas, na melhor gelataria da Figueira da Foz e arredores.
Um grande abraço e cá fico à tua espera.
Matilde

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ESTRANHO MUNDO

“ Embora só de tempos a tempo nos apercebamos disso, a verdade é que vivemos num mundo estranho. Enquanto alguns países são fustigados por incêndios, outros, como o Paquistão e o México, sofrem cheias terríveis. A água que causa tantos estragos nuns sítios daria muito jeito para apagar fogos noutros.
Mas não é só o clima que parece desregulado. Se olharmos para o panorama humano, os contrastes não são menos gritantes. Por um lado, temos um estudo que revela que há cerca de 27 milhões de pessoas em todo o mundo em situação de trabalho escravo. Só a Islândia (com pouco mais de 300 mil habitantes) e a Gronelândia ( com 57 mil, menos do que a lotação do Estádio da Luz) parecem estar livres deste flagelo. Ao mesmo tempo que surgem estes números preocupantes sobre a escravatura, temos rapazes e raparigas lançados para o estrelato com uma facilidade enorme e a ganhar milhões de um momento para o outro.
A descoberta de jogadores de futebol que são autênticas pedras preciosas tem um paralelo: o mercado da arte. De tempo a tempos aparece uma pintura de um artista famoso que estava numa cave e afinal valia milhões. Creio até que já foi encontrado um Picasso na Feira da Ladra. Quem disse que está tudo descoberto e já não podemos ser surpreendidos?”
Neste mundo estranho acabamos por já não nos surpreender com o que vamos vendo e ouvindo. São surpresas atrás de surpresas…

Parte dum artigo de José Carlos Saraiva na Revista Tabu, de 20 de Agosto de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

OLÁ !

Há dois anos , um dos meus filhos incentivou-me a criar um blogue. Senti-me encorajada com as suas palavras e logo nesse dia a Matilde estava na Internet com o seu “figueirenseporadopcao”. Com uma certa regularidade fui narrando algumas experiências pessoais ou transcrições que achei interessante partilhar, mas há já algum tempo tenho deixado grandes intervalos entre os meus blogues. Que me desculpem todos aqueles que ainda o vão visitando. A disposição e a falta de inspiração têm superado as minhas intenções e o resultado é visível. Depois, e isso também conta, eu não tenho uma boa relação com o computador, apenas o uso como máquina de escrever, e quando surge o mais pequeno problema preciso de ajuda imediata. Tenho de admitir que esta minha incapacidade , ou melhor, a minha relutância em querer aprender, não é normal nos nossos dias, quando até uma criança de 6 anos já é mestra no uso do computador… Mas, paciência, cada um é como é! Vou procurar activar o meu blogue, seguindo as linhas que desde o início orientam este meu projecto, se assim lhe posso chamar, não permitindo que o desinteresse e a preguiça mental se instalem. Tentarei dar asas à imaginação e encontrar temas que possam inspirar a minha modesta escrita . É tudo por hoje e… até breve!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RECORTES DA VIDA

Todos nós coleccionamos coisas a que damos determinado valor. Lembro-me de, em criança, guardar caixinhas de medicamentos e outras, de vários tamanhos, que me entretinha a acomodar numa gaveta. Seguiram-se as pratas coloridas dos bombons e tabletes de chocolate que, depois de bem alisadas, conservava entre as folhas de um caderno. Vieram depois os papéis dos embrulhos de Natal, as fitas e os lacinhos, os frascos de vidro das compotas, de diferentes tamanhos e formatos. Mais recentemente, os bonitos guardanapos de papel de desenhos variados, tornaram-se o alvo favorito das minhas poucas extravagâncias. Os postais enchem alguns álbuns assim como os cartões de felicitações dos últimos anos que guardo cuidadosamente em dossiers (penalizo-me por todos aqueles que deitei fora…). Depois vêm os diários das viagens, completados com fotografias, bilhetes de entradas nos museus, talões de compras, etc, etc. Às cartas, cartões e outra papelada não poderei chamar de colecções, no verdadeiro sentido do termo, mas posso talvez classificá-los como “recortes” que eu tenho vindo a “colar” nas folhas do livro da vida, que de tempos a tempos vou folheando para avivar as recordações do passado. Seria talvez melhor retirar um ou outro “recorte” que não merece ser lembrado, mas se eu o destruísse , então o meu livro ficaria com espaços em branco. Achei melhor deixá-los esquecidos no fundo da gaveta…
Há pessoas que são de opinião que o passado é passado e esforçam-se por apagá-lo da memória. Eu acho que quem deseja apagar da mente as recordações é porque não quer deixar-se envolver de novo nas emoções então vividas, mesmo aquelas que lhes foram mais gratas. Mas será que podemos pôr um cadeado no “arquivo” da nossa memória para não suscitar as recordações?!
Há pouco tempo encontrei-me com uma amiga de infância que já não via há alguns anos. Falámos das nossas vidas, da família, e a dada altura demos por nós a reviver os tempos da nossa adolescência na escola, as colegas e um sem número de aventuras que já julgávamos esquecidas. Toda esta conversa frente a uma audiência constituída pelo meu marido e outra amiga, que se admiravam da nossa capacidade em conservarmos ainda tão vivas tantas lembranças desse tempo. Com as recordações eu tenho aprendido muitas lições para a vida. Os erros do passado têm-me ensinado a tomar atitudes mais cautelosas. Todas elas , boas ou menos boas, são um estímulo para eu continuar a “colar recortes” e indo acrescentando folhas ao meu livro da vida , cujo o epílogo caberá aos meus descendentes.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Minha amiga

Recentemente, pediram-me para ir a sua casa porque o carteiro tinha deixado umas cartas com um destinatário desconhecido e era preciso devolvê-las. A sua família está em Lisboa e só vem de tempos a tempos, como já era habitual, e é a empregada que tira o correio da caixa e vai cuidando da limpeza da casa. Estava uma tarde de sol! Abri a porta e entrei. Pareceu-me estar tudo escuro. Deixei a porta entreaberta e comecei a subir as escadas. O silêncio era total. A caliça, cobrindo os degraus, veio lembrar-me o vazio da casa. De repente, apoderou-se de mim um sentimento estranho e comecei a correr procurando rapidamente fazer o que me tinha sido pedido. O sol inundava a sala, a correspondência estava em cima da mesa de jantar, mas não encontrei as ditas cartas, e, assim como entrei, rápida, desci os degraus, fechei a porta e saí para a rua.
Nessa tarde, já mais calma, procurei encontrar uma explicação para a experiência que tinha vivido. A minha querida Amiga deixou-nos há perto de um ano, mas para mim aquela casa era e será sempre a sua casa. Já lá voltei outras vezes para me encontrar com as suas filhas, mas aquele momento foi especial, eu senti-me uma intrusa invadindo a privacidade de alguém que guardara ali as recordações de uma grande parte da vida e onde se sentira sempre mais feliz. Depois, aquela ausência de ruído, o vazio que me atingiu quando abri a porta, devem-me ter transportado, sem eu disso me aperceber, a situações vividas no passado, uma delas ainda recente. Angústias e temores sentidos quando, por duas vezes, a querida Amiga , num sono profundo e tranquilo, não ouviu a campainha da porta e o tocar do telefone que insistiam, mas não eram atendidos. Fui avisada do que se passava e corri, a primeira vez com um amigo e anos mais tarde, com o meu marido, aflitos e pensando o pior. A corrente estava na porta a impedir-nos de entrar. Foi preciso chamar os bombeiros e, da última vez, a polícia teve de intervir porque as janelas também estavam fechadas. O silêncio da casa e a escuridão que nos envolvia à medida que subíamos os degraus apertavam os nossos corações. Foram momentos que eu nunca vou poder esquecer. A sua idade avançada e a sua já muito débil saúde eram motivos de preocupação. Graças a Deus a minha Amiga dormia calmamente.
Agora, eu não senti medo de a qualquer instante ser surpreendida por a ver no cimo das escadas ou sentada na sala , mas, sim, pelo facto de não ter ouvido a sua voz afável a dizer-me “Faz favor de subir!”, para depois ser recebida com um bonito sorriso de boas-vindas e um beijo… Só pude escutar o silêncio…
Desta casa, saudosa Amiga, eu guardo gratas recordações vividas ao longo dos 49 anos da nossa amizade. Sinto muito a falta da sua jovialidade, dos seus conselhos, das suas palavras atenciosas e sábias. Ficava presa aos relatos das suas viagens, enquanto criança e jovem, por terras de África. A sua disponibilidade para cuidar dos meus filhos quando, em crianças, lhe ficaram algumas vezes confiados. A nossa vivência cristã uniu-nos na igreja que frequentámos e na comunhão com Deus. E será na Sua presença que nos voltaremos a encontrar um dia!
Até lá, fico com as recordações e a saudade….




sábado, 12 de junho de 2010

LUTADORES OU ACOMODADOS

Dei por mim a pensar nos momentos em que olhamos para trás e deixamos que o pensamento nos leve a reviver os anos que já passaram. Rumos que tomámos por opções que fizemos, o desânimo dos fracassos ligados à alegria das conquistas. A luta para conseguir vencer as dificuldades e as emoções vividas com a constituição da família e o nascimento dos filhos. A gratidão a Deus pelas muitas bênçãos recebidas. Muitas coisas que deixámos de fazer porque não soubemos aproveitá-las e que já não vamos a tempo de agarrar. Uma mistura de sentimentos que nos envolve e que nos obriga a continuar, porque a vida é feita de avanços e recuos. Apercebemo-nos que ela se vai escoando pelos anos que passam, mas que vamos sempre a tempo de, com perspectivas positivas, procurar o seu equilíbrio. É a ”vontade de viver” que nos impulsiona a ir em frente.
Mas ultimamente tenho vindo a observar melhor o modo como as pessoas, talvez as mais velhas, mas não só, “vão levando a vida”. Isso significa, para mim: viver acomodado, fugindo ao envolvimento pessoal com situações reais da vida e o desinteresse por tudo aquilo que se prefere ignorar para se evitar desgostos ou aborrecimentos. A falta de empenhamento nas actividades em que se está envolvido e deixar correr os dias na rotina de hábitos que se foram adquirindo. O saudosismo do passado e a dificuldade em aceitar as mudanças do presente. A falta de paciência para lidar com situações que ultrapassam a compreensão. A omissão de comentários que possam criar antagonismos. A doença que fragiliza o corpo e perturba o espírito. As barreiras que se vão construindo e que a pouco e pouco vão quebrando a participação na sociedade.
No ritmo acelerado, que a vida nos impõe, torna-se cada vez mais difícil encontrar disponibilidade para o estreitamento de relações com a família e com os amigos e vai havendo uma maior predisposição para que muitas pessoas acabem por “ir levando a vida” conforme acham melhor e podem, encarando o futuro com uma certa reserva.
“Lutadores” ou “acomodados” sabemos que não podemos controlar a vida, mas teremos de continuar a enfrentar os desafios que ela nos põe.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

UM ADEUS

A semana passada recebi a triste notícia acerca de um jovem de 34 anos, que eu vi crescer, e que na estrada perdeu a vida. Deixou um filho de 4 anos e uma família que o amava. “Ainda era um menino…” dizia a mãe, lamentando-se, no seu choro de dor. E quantos “meninos” mais irão deixar um rasto de sofrimento nas famílias que os verão partir !…
Nestes momentos, eu interrogo-me “Porquê, Senhor?” Mas logo recordo as palavras do Livro de Eclesiastes “Neste mundo, tudo tem a sua hora, cada coisa tem o seu tempo próprio. Há o tempo de nascer e o tempo de morrer…” Uma criança nasce e logo começam a preocupações dos seus pais. Uma pequena alteração no seu estado de saúde é o suficiente para ficarem inquietos. Cada dia é uma etapa na vida que vai desabrochando, como a flor que a pouco e pouco abre as suas pétalas e se mostra em toda a sua beleza. Vão-se fazendo planos para o futuro e até se começa, muitas vezes, a antever a carreira que o filho poderá seguir por se achar que talvez possa ter mais sucesso em termos profissionais.
Mas os imprevistos fazem parte do percurso da nossa vida e as realidades sobrepõem-se aos sonhos. Somos como uma “cana agitada pelo vento” e que a qualquer momento se pode vergar e partir. A fragilidade da nossa vida é evidente, mesmo quando tudo parece estar a correr bem. O José Luis foi sempre um rapaz pacato, tranquilo, estimado por todos. Tocou na filarmónica da sua terra. A seu tempo casou e nasceu um filho dessa união. Era camionista nos transportes rodoviários de longo curso. Com muito trabalho e sacrifício o casal foi construindo a casa que muito em breve iriam habitar. A Igreja Evangélica de Alhadas foi pequena para acolher todos aqueles que lhe quiseram dizer o último adeus.
“Ainda era um menino”, relembro muitas vezes estas palavras, pois elas traduzem toda a tristeza da sua mãe, mas ao mesmo tempo a incompreensão de, num momento para o outro, o ver partir. Uma mãe não consegue encontrar uma explicação que possa justificar a perda dum filho. Foi ela que o trouxe dentro de si, é desde esse momento que o começa a amar e não podem haver palavras que traduzam o sentimento que o liga a si. Perdê-lo ,seja em que altura da sua vida for, será sempre uma dor imensa e longe de desaparecer…
Mas nós não temos uma permanência física eterna. Todos temos plena consciência que a nossa hora há-de chegar. Quando, só Deus o sabe. O José Luis está na Sua presença onde todos nos iremos reunir. Ali, “não haverá mais morte, nem pranto , nem clamor, nem dor”, e para sempre gozaremos da vida eterna.

sábado, 17 de abril de 2010

TODOS FAZEMOS PLANOS

Numa entrevista a Maria Cavaco Silva, quando é questionada se está preparada para ficar mais 5 anos como primeira dama, caso o marido se recandidate, ela responde: “Não me candidatei, também não me recanditarei. Já estive preparada para muitas coisas que nunca pensei que me acontecessem. Cito uma frase de Agostinho da Silva que talvez corresponda à minha vida, “Nunca faças planos excessivos para a vida, para não atrapalhar os planos que a vida tem para ti.” Talvez por tudo o que planeei não aconteceu, acontecendo tudo aquilo que não tinha planeado. A vida tem com certeza planos, quais não sei. Quando vêm aceito-os e faço o melhor que posso e sei” (*)
Há determinados planos para o futuro que eu evito fazer. Procuro ir deixando o tempo passar e os acontecimentos vão-se desenrolando, alguns nem sempre como eu teria desejado, outros até, impensáveis, e que acabam por me surpreender pela positiva. Sou um pouco pessimista, não que esteja sempre a pensar que a qualquer momento irei deparar-me com situações desagradáveis, mas prefiro ser cautelosa nas minhas intenções, para não sofrer depois as desilusões dos imprevistos.
Se eu fosse dizer que procuro viver apenas um dia de cada vez, sem pensar no que irei fazer amanhã, então eu não teria perspectivas para o futuro. Por muito reticente que eu seja nos planos que faço, sobretudo a longo prazo, estou absolutamente consciente que a minha vida, como a de qualquer outra pessoa, tem de ser planeada, pois é assim que ela vai a pouco e pouco sendo construída. A falta de planos compromete o nosso futuro. Os tais “planos excessivos “ de que fala Agostinho da Silva, é que podem ficar comprometidos, porque a vida nem sempre corre ao sabor da nossa vontade.
A velhice, a fragilidade da saúde, a solidão, vão provocando o alheamento da vida, o desinteresse pelo amanhã, e, consequentemente, a vontade e a capacidade de fazer planos. Quando entro num lar de idosos fico muito triste porque vejo nos olhares de alguns deles a “espera” por alguma coisa e a resignação . Já não fazem planos, mas talvez ainda sonhem...Planear os dias implica luta, persistência. Sonhar é só imaginar, fantasiar e deixar-se embalar por eles…

(*) Revista “Única” do semanário Expresso, de 06.03.10

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ÓSCAR, UM GATO ESPECIAL

Na Revista ÚNICA, do semanário Expresso, de 27 de Março, vem a história de um gato, que desde os 6 meses de idade e juntamente com mais 5 companheiros, vive no lar Steere House, em Rhode Island, nos Estados Unidos. Pouco sociável, passava os seus dias a dormir nos seus cobertores. “Pensava-se que era um gato comum. Mas isso foi antes do pessoal do terceiro piso, dedicado aos cuidados paliativos, lhe detectar um dom extraordinário: quando a saúde de um dos pacientes piorava, Óscar começava a visitá-lo no quarto com frequência. A certa altura, subia para a cama, aninhava-se aos pés do paciente e dali não saía. Em vigília, acompanhava-o nas últimas horas”. Quando a enfermeira Mary chamou a atenção do médico geriatra, David Dosa, para o estranho dom do gato , incrédulo ele respondeu :”Não me entenda mal, Mary. Adoro a ideia de um animal se vir sentar junto de mim quando eu morrer. É enternecedor”. Pouco tempo depois, uma mulher de 80 anos, que padecia de uma doença grave, e “apesar de nada indicar que a sua morte era iminente, a enfermeira surpreendera-se por Óscar se ter enroscado ao lado da paciente. Dosa encolheu os ombros e partiu, sem dar grande importância à teoria da enfermeira. Uma hora depois recebeu um telefonema. A senhora Davis tinha falecido na companhia de Óscar. “Está a acontecer sempre que alguém morre. David, acho mesmo que o gato sabe”, insistiu Mary.
Passaram-se seis meses, o médico já tinha esquecido o assunto , mas recebe de novo um telefonema informando-o que outra paciente do lar tinha falecido, “e, como noutras ocasiões, Óscar montara vigilância na cama da paciente durante as últimas horas de vida”. E, diz Dosa, “ Embora ninguém entre o pessoal médico, incluindo eu, achasse que ela estava sequer doente, muito menos perto da morte, aquele gato sentiu qualquer coisa. Ainda que a minha fé na ciência e a minha própria vaidade me ajudassem a rejeitar a ideia de que um felino qualquer podia saber mais do que nós, médicos e enfermeiros, sabíamos, senti-me estranhamente eufórico com a ideia de poder estar completamente enganado”, escreve ele mais tarde.
“Seria coincidência que Óscar estivesse presente na morte de cada paciente? O episódio despertou a inquietação do médico, que se lembrou de uma citação de Einstein: “A coincidência é a forma que Deus tem de permanecer anónimo”. E Dosa começa a investigar o comportamento deste gato. Óscar era o único dos seis gatos do lar a ficar junto dos doentes em fase terminal, para consolo dos seus familiares.
Em 2007, David Dosa escreveu um artigo sobre este gato no jornal cientifico “ The New England Journal of Medicine e recentemente um livro “ÓSCAR – O dom extraordinário de um gato único”, editado em Portugal pela Caderno. Dosa não consegue encontrar explicações precisas para o comportamento deste gato. “Óscar encarna a empatia e o companheirismo. O trabalho dele é fazer companhia nas horas finais, faz parte da equipa” escreve o médico no prefácio do seu livro.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"PERDIDOS EM SI MESMOS"

Há umas semanas atrás vi o filme “Away from her”- “Longe dela”. Voltei a vê-lo mais tarde e não sei se haverá ainda uma terceira vez. A história envolve um casal de meia-idade que está a passar por um grave problema. A senhora começa a revelar sintomas da doença de Alzheimer. Os actores conseguem encarnar tão bem as personagens que, ao ver o desenrolar das imagens , eu esqueço-me que é uma representação, e do princípio ao fim, deixo-me envolver nas emoções que as cenas vão transmitindo e vejo Grant e Fiona como amigos meus que estão vivendo o mesmo drama.
Alguém me dizia que “este filme deve ser visto quando se tem 50 anos”, isto porque os primeiros sinais da doença podem manifestar-se muito cedo. Se estas pessoas recorrerem ao médico e começarem a ser devidamente medicadas, isso irá permitir o atraso da evolução da doença e gozarem mais tempo de autonomia e qualidade de vida. E lembro uma frase do actor: “ O cérebro dum doente com Alzheimer é como uma casa iluminada, quando pouco a pouco se vão desligando os interruptores”.
Fiona foi tendo consciência das suas perdas de memória. Procurou informar-se sobre a doença. Ela e o marido decidem consultar uma médica especialista e os testes que esta lhe faz confirmam que tem doença de Azheimer. E será Fiona, já muito perdida nas suas ideias, que vai decidir o seu futuro, apesar da angústia que sente invadi-la.
As implicações que a doença de Alzheimer tem na vida dos familiares da pessoa doente, sobretudo naqueles que vivem mais de perto a situação, revelam-se extremamente desgastantes, tanto a nível físico como emocional. Familiares meus estão vivendo este drama e sei como lhes é difícil assistir à diminuição progressiva das capacidades do seu ente querido e ao mesmo tempo manterem o ânimo e terem forças para levarem em frente a sua tarefa.
Tenho duas amigas que sofrem desta doença. Uma delas foi minha colega de trabalho e sempre fomos muito chegadas. Relembro as mulheres que elas foram: mães de família, exercendo actividades profissionais, participantes na comunidade, sempre com um sorriso nos lábios e uma palavra amiga para todos. Quando as visito, regresso a casa com o coração triste…
Doença de Alzheimer, “ Um Caminho de Dependência”.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

UM SONHO ANTIGO

Ao longo da vida todos nós nos vamos deixando embalar por sonhos que transcendem muitas vezes o nosso imaginário e passam para a realidade transformados em esperanças que vamos alimentando, embora pouco convictos na sua concretização. Há uns anos atrás, tive um sonho, e que nunca passou disso, porque o meu espírito pouco aventureiro, tirou-me logo à partida quaisquer hipóteses de o tornar realizável… O meu sonho de então era abrir um pequeno salão de chá, com todas as condições que considero essenciais num espaço que se deseja com um conforto aconchegante. Um lugar aprazível, onde os clientes, longe do bulício do exterior, pudessem tomar o seu chá sem pressas, gozando de intimidade nas suas conversas sussurrantes. Consegui envolver uma amiga e colega de trabalho neste “projecto” e juntas imaginámos o melhor local para instalar o nosso salão de chá : talvez na zona ribeirinha, num sítio agradável mas movimentado, onde quem passasse se sentisse convidado a entrar. Uma pessoa especializada tomaria conta da decoração, que se desejava confortável e com um certo requinte. Variedades de chá, doçaria caseira, música de fundo e outros pequenos detalhes que dariam um toque especial à sala. As nossas divagações davam lugar a conversas animadas que terminavam sempre em boas risadas. De tempos a tempos o assunto vinha à baila, mas a pouco e pouco o sonho foi-se desvanecendo e agora só é recordado por graça.
Temos muitas pastelarias na nossa cidade, algumas recomendáveis pela boa qualidade da sua confeitaria, mas faltam-lhes as condições para serem espaços agradáveis, acessíveis a toda a gente, com uma qualidade e apresentação cuidada e atractiva. O elevado número de clientes em salas pequenas, o espaço apertado entre o balcão e as mesas, a venda de pão generalizada e, mais recentemente, o fornecimento de almoços, aliadas a outras situações menos boas, não convidam as pessoas a gozarem momentos de descontracção e de aconchego. Pode ser que um dia alguém dê vida ao nosso sonho e abra um salão de chá . Tenho a certeza que seria um bom investimento. Farei o possível para estar presente na inauguração!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UM MOMENTO FATAL

Por razões várias não tenho escrito e recomeçar tem-se tornado difícil. Que me desculpem aqueles que têm visitado este blogue.

Numa manhã de um domingo do mês de Novembro eu e o meu marido fomos surpreendidos com uma notícia que nos deixou muito perturbados porque atingiu pessoas nossas amigas, deixando um rasto de dor e sofrimento. Pai e filha regressavam tranquilamente a casa depois de um jantar com amigos. A filha conduzia o carro em que seguiam. Numa curva, aperceberam-se dum carro que vinha em sentido contrário. As últimas palavras do pai foram: “Eles não vão conseguir fazer a curva…” De imediato, aconteceu o previsto, o choque frontal contra a viatura que não seguia na sua mão, conforme manda o código. O balanço deste trágico acidente foi a morte imediata deste homem e ferimentos muito graves na condutora. Os causadores do acidente, segundo sei, só um é que foi ao hospital. Eram jovens, vinham muito animados duma discoteca e planeavam continuar a diversão pelo resto da noite. Casos como este há muitos outros, infelizmente, e em grande parte causados pelos condutores mais jovens, que não têm consciência das consequências quando infringem as regras estabelecidas para uma condução segura. Não lhes interessa se beberam mais do que aquilo que é permitido por lei, se estão ou não suficientemente lúcidos para poderem, com segurança, pegar num carro e irem para a estrada. O desejo de quererem gozar a juventude não deixa lugar ao bom-senso. Muitos deles perdem a vida ou ficam com lesões para sempre.
O que pensarão estes jovens que provocaram o grave acidente a que me refiro? Tenho quase a certeza que aquela noite fatídica deixou marcas bem profundas nas suas vidas. Não vão esquecer o silêncio depois do embate, as sirenes dos bombeiros e do INEM e a confusão que se seguiu. Não sei qual será a sentença do tribunal, mas, seja ela qual for, nada poderá trazer de volta aquele pai à sua família, à sua filha e à normalidade da vida que esta vivia com ele. Quanto tempo terá ainda de permanecer na cama do hospital? Ficará com lesões? Os traumas psíquicos, esses vão permanecer. Nada voltará a ser como dantes…
Que ao menos isto sirva de lição àqueles jovens para aprenderem a viver a sua juventude de uma maneira mais saudável, deixando que ela lhes deixe gratas recordações para o futuro. A vida é passageira, aprendam a viver um dia de cada vez, com alegria e sem motivos para lamentar atitudes menos próprias.

sábado, 24 de outubro de 2009

RECORDANDO

A nossa filha veio passar duas semanas connosco e quando ela nos visita tentamos aproveitar ao máximo os dias para, em família, gozarmos da sua companhia. Há sempre muitas coisas para recordar, algumas até já esquecidas e que nos fazem voltar atrás ao passado, recriando o cenário de então. Vão-se fazendo comentários e rindo com algumas narrativas mais elaboradas, porque o passar dos anos vai omitindo alguns pormenores. Envolvidos num clima de alegria e de um certo saudosismo deixamos as horas passar.
É curioso, nestas ocasiões eu dou por mim a voltar atrás no tempo e a analisar uma ou outra atitude que tomei, sentindo, com uma certa mágoa, que talvez não tenha agido da melhor maneira. Com o passar dos anos e em muitos aspectos, eu passei a ter uma outra visão das coisas e questiono-me muito. Estes “conflitos interiores”, que por vezes me invadem, eu penso que são resultantes das constantes comparações que faço entre o passado e o presente, entre os padrões que orientavam a educação dos mais novos há uns anos atrás e aqueles que vejo serem hoje defendidos e adoptados e que me parecem pôr em causa a importância dos valores e a firmeza nas convicções.
Agora os meus filhos já estão criados e já não me pesa a responsabilidade da sua educação. Dou graças a Deus pelos filhos que tenho: pessoas bem formadas de quem muito me orgulho. Na educação que eu e o pai lhes demos fica-me a noção que fizemos o melhor que podíamos e sabíamos, dentro das condições de vida que nos cercavam e as convicções que nos orientavam. Sinto que é saudável para mim ir fazendo avaliações de quando em quando, nas atitudes que tomo, naquilo que fiz e não devia ter feito, nas decisões que tomei e por aí fora. É uma boa aprendizagem para viver o futuro com mais qualidade!

Noémia Neto, Figueira da Foz, 24 de Outubro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O MEU ADEUS

Estou muito triste…A minha grande amiga Noémia partiu para Deus no passado domingo, depois de dias de sofrimento no hospital. Ainda me brindou com dois grandes sorrisos no primeiro dia que a visitei. Fiquei enternecida ! Eles ficarão para sempre retidos no meu pensamento. Chegou à bonita idade de 93 anos ! Mas a doença foi debilitando a sua saúde e há mais de um ano que deixou de ser a mulher activa e lutadora, que se esforçava por aproveitar cada dia que Deus lhe concedia de vida, sempre com um sorriso no seu bonito rosto.
Perdi uma amiga que conquistei logo nos primeiro tempos, depois de ter chegado à Figueira da Foz, com 27 anos. A minha família foi aumentando e os nossos laços de amizade foram fortalecendo-se ao longo dos anos. O meu filho mais novo e o seu neto tornaram-se nos grandes amigos que agora são. A nossa amizade deu lugar ao grande afecto que hoje liga as nossas famílias.
Depois de um estreito e apertado abraço à sua filha mais nova, após o funeral, que nos uniu na saudade que a sua partida deixou em nós, eu disse-lhe: “ Tenho sentido tanto a falta da tua mãe, das nossas conversas à mesa do café, quando dávamos os nossos passeios…” Foram muitas as horas que passámos juntas e a sua ausência deixa uma grande lacuna na minha vida. São Amizades como esta que permitem que o nosso coração se abra, numa partilha de sentimentos, que vão da troca de ideias aos desabafos e às confidências mútuas.
Adeus Amiga! Tenho a certeza que um dia nos encontraremos junto de Deus.

“ Será p’ra mim glória sem fim!
Ver o Senhor assim como Ele é,
Será a glória das glórias p’ra mim!

Entes queridos lá encontrarei,
Prazer infindo ali gozarei;
Mas um só meigo sorriso do Rei
Será a glória das glórias p’ra mim!



terça-feira, 8 de setembro de 2009

AS REALIDADES DA VIDA

“Não, a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude.” Ramalho Ortigão

Depois de ter visto um determinado programa na televisão, concluí, e penso não estar longe da verdade, que quando falamos das “realidades da vida”, de uma maneira geral, estamos a olhar o lado negativo da vida, os infortúnios que a qualquer momento podem surgir. São encaradas como surpresas às quais não podemos fugir e, dependendo da nossa maneira de sentir, ou estamos sempre atentos com a percepção de que algo de mau vai acontecer, ou continuamos a viver, sem cepticismo, conscientes que iremos encontrar forças e coragem para enfrentar as “partidas” do destino.
De todo o lado surgem evidências que nos dão conta da sociedade estar a sofrer alterações constantes que se reflectem no nosso dia-a-dia. Sabemos que não estamos livres de em qualquer ocasião sermos obrigados a enfrentar situações de medo e provação. Todos nós já vivemos momentos de tristeza e dor com a partida de um ente querido, lutámos com a doença. Vivemos tempos de tensão e angústia que surgiram inesperadamente na vida. O desemprego que pode bater-nos à porta, a violência de que podemos ser vítimas a qualquer momento, consequências dos novos tempos que vivemos. Mas o que nós estamos sempre a constatar é que, com maior ou menor sofrimento, com mais ou menos optimismo, com a ajuda de Deus, vamos aprendendo a viver de novo a vida que ainda temos pela frente, dando pequenos passos, parando para depois recomeçarmos a caminhada. A disposição pode não voltar a ser a mesma, mas outros interesses vão surgindo e a luta pela sobrevivência tem de prosseguir porque a vida continua. As dificuldades da vida ajudam-nos a crescer na fé e a construir o nosso carácter.

domingo, 23 de agosto de 2009

UMA NOVA VIDA

A amiga, a quem já me referi algumas vezes, teve de deixar a sua casa e ir para um Lar de Idosos, depois de ter caído e ficado impossibilitada de abrir a porta à funcionária da instituição que lhe fornecia o almoço. Embora contrariada, já não teve mais forças para lutar e lá está. A pouco e pouco a sua saúde foi-se debilitando, perdeu as forças, e o seu já pouco ou nenhum interesse pela vida abandonou-a por completo, apesar de continuar a resistir a qualquer ajuda que as vizinhas e as amigas sempre lhe quiseram prestar.
É muito triste assistir à degradação da vida duma pessoa, especialmente quando a conhecemos há muitos anos e com ela convivemos.
Nem todos conseguem ultrapassar a solidão, sobretudo quando a saúde começa a faltar e se vai perdendo a disposição para comunicar com os outros. É meio caminho andado para se instalar a depressão e com ela o desinteresse pela vida, o descuido com a aparência e o arranjo da casa. Esta amiga isolou-se do mundo e nada, nem ninguém, conseguiram convencê-la a mudar o estilo de vida que escolheu para viver nestes últimos anos. O nosso coração está muito triste, questionamos os “porquês” que a levaram a um tal estado, mas não encontramos respostas. E ela, tê-las á !?
Agora tem quem olhe por ela, está cuidada, tem o sol a entrar pela janela do quarto, tem companhia, não está só. Ganhou uma qualidade de vida há muito perdida. Que Deus a ajude neste processo de adaptação por que está a passar, que ela se possa ir sentindo como mais um membro da grande família a que agora pertence. Não vai ser fácil ela aceitar a mudança de um momento para o outro, sem passar por emoções que as recordações do passado lhe trarão, mas também creio, pelo que me foi já dado observar, que não está indiferente aos benefícios que está a usufruir no seu corpo cuidado, na atenção que lhe dispensam e no carinho com que é tratada. Visitas não lhe irão faltar, estou convencida disso.
Força, Amiga, vamos sempre a tempo de aceitar a mudança !

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

HÁBITOS

As aulas de hidroginástica do Ginásio Clube Figueirense foram suspensas para um período de férias. Durante um mês não farei as minhas caminhadas até à piscina e isso vem quebrar uma das minhas rotinas da semana. Mesmo os mais avessos a hábitos estabelecidos não podem fugir a eles. Toda a nossa vida, quer queiramos quer não, gira à volta de rotinas, muitas delas são consequência de obrigações a que não podemos fugir. Depois há hábitos que herdámos da infância, pela educação que recebemos, muitos dos quais ainda conservamos. Cada um de nós vai-os desenvolvendo ao longo da vida, ao mesmo tempo que perdemos uns e adquirimos outros. É curioso que muitas vezes eles nos identificam, embora isso nem sempre nos traga qualquer benefício. Li há pouco tempo, na revista Sábado, a notícia de um caso passado no Reino Unido. Uma mulher de 85 anos vivia sozinha num apartamento de uma rua movimentada de Edimburgo e era conhecida da vizinhança porque passava na rua 4 vezes por semana, calçada com botas e mochila às costas, equipada para os passeios que costumava dar. Nos últimos 5 anos ninguém estranhou a sua ausência. A reforma continuava a vir para a sua conta bancária e as suas contas pagas através do banco. E foi passado esse tempo que o vizinho do andar de baixo se queixou por problemas de infiltrações surgidos no tecto e a falta de resposta da inquilina. A polícia teve de intervir e encontrou o corpo desta mulher sem vida. São situações quase inimagináveis, mas que, infelizmente, acontecem.
Há aqueles hábitos que se tornam rituais que cumprimos religiosamente. Eu sou uma pessoa de hábitos, que giro com uma certa rigidez, e sinto-me um pouco perdida quando a minha vida foge à rotina. Sou especialista em gestos que até podem passar despercebidos a quem me conhece e lida mais de perto comigo, que são reflexos involuntários dos quais eu própria nem me apercebo. Gosto muito da simetria, cada coisa no seu lugar, colocada de uma certa maneira. A toalha que está descaída de um lado, o armário com a porta entreaberta, a cadeira um pouco afastada da mesa, são situações que me obrigam a intervir de imediato. Cada doido tem as sua manias!
Infelizmente, há hábitos que se transformam em vícios, que prendem as pessoas nas suas malhas e podem arruinar as suas vidas, como o álcool e a droga. E aqueles hábitos que se vão perdendo pouco a pouco e levam as pessoas muitas vezes ao isolamento, ao distanciamento dos outros. Nestes casos é muito difícil qualquer tentativa de ajuda, de aproximação, porque não há receptividade nem abertura. A perda de hábitos acaba por levar à solidão que vai invadindo a vida dos idosos, dos esquecidos, dos marginalizados…
Não me posso esquecer: Em Setembro começam de novo as minhas aulas de hidroginástica !

quinta-feira, 16 de julho de 2009

RECORDAÇÕES

Há poucos dias reuniu-se a família no aniversário do nosso filho mais velho. Com jeitinho conseguiram sentar-se 16 pessoas à mesa para um almoço preparado pelo aniversariante. São momentos como este que enchem de alegria os nossos corações e há sempre tanto para recordar quando estamos juntos! Uma frase, que já não ouvia há muito tempo, surgida na animação da conversa, transportou-me ao passado:” Mamã, olha o meu irmão!”. Naquele momento, recordei as suas travessuras da infância, as quezílias, as queixas e lamúrias, as partidas, nem sempre bem aceites pelos visados, as emoções vividas por experiências partilhadas, algumas das quais, nós, os pais, estávamos longe de imaginá-las. As brincadeiras na rua, que às vezes terminavam em choro, mas que eram sempre as preferidas: uns pontapés na bola, as descobertas de novas aventuras, e por aí fora.
Lembro-me que o elevador do nosso prédio, dos primeiros nas redondezas, era procurado por toda a criançada do bairro e da que passava para as escolas. Apesar dos ralhos ou dum puxão de orelhas dado por algum vizinho mais irritado com toda aquela paródia, a miudagem não desistia. Era ouvi-los para baixo e para cima, a parar o elevador em todos os andares, numa algazarra constante. O pior é que, de volta em meia, éramos obrigados a usar as escadas, porque o dito elevador não resistia a tantas provações…
Hoje, se não estou em erro, há apenas umas três crianças nesta zona, mas procuramos todos manter as portas de entrada bem fechadas, receando visitas menos bem intencionadas. O elevador está mais silencioso e a sua manutenção mantém-se dentro das normas estabelecidas, sem chamadas de emergência. Vamos à janela, e a qualquer hora olhamos alguns carros procurando um lugar para estacionar. Os gatos passeiam-se tranquilamente nas traseiras, aguardando a hora da próxima refeição, que uma senhora da vizinhança tem sempre o cuidado de lhes proporcionar. As pombas passam o dia debicando aqui e ali, em perfeita confraternização com as gaivotas e os felinos. Um passarinho numa gaiola faz ouvir os seus trinados. Amanhã, serão estas as recordações que levarei deste presente e, graças a Deus, porque apesar das coisas menos boas da vida, vão surgindo sempre os momentos mais felizes, que me deixam gratas lembranças e me fazem sentir que tenho sido sempre muito abençoada com a família que tenho, com as amizades que fui criando nesta linda cidade que me adoptou há já muitos anos!

domingo, 5 de julho de 2009

VIVER O PRESENTE

Num programa recente da Oprah, quem assistiu viveu, certamente, com emoção a apresentação de alguns casos de crianças que desde o seu nascimento vivem com deficiências físicas que, só após operações difíceis e demoradas, têm, pouco a pouco, conseguido melhorar a sua qualidade de vida. Felizmente os avanços da Medicina têm permitido que às mulheres grávidas sejam feitos exames que podem já detectar, com alguma certeza, se o feto apresenta disfunções que venham a pôr em causa o seu crescimento normal, antes e depois do nascimento. Foi o caso apresentado de uma jovem mulher, que às 38 semanas de gravidez, lhe foi dito que o seu bebé era portador de Trissomia 18 e que as suas possibilidades de vida eram diminutas. Depois de confrontados com a realidade da situação, o casal tudo fez para, com alegria, levar a vida o mais normal possível, aproveitando todos os minutos que iriam poder gozar com o seu bebé. Pensando em outros pais, que pudessem estar a passar pelo mesmo, o pai começou a escrever todos os dias uma carta ao filho, descrevendo o que se ia passando. Mãe e pai faziam turnos para lhe darem o biberão, tarefa que demorava uma hora e meia, aliada a muitos outros cuidados que lhe iam mantendo a vida. As cartas continuaram a ser escritas, as fotografias encheram os álbuns e aqueles pais foram assim aproveitando cada dia da curta vida que o sei filhinho iria viver. Os seus três meses de vida foram sendo comemorados até à sua partida deste mundo com 99 dias… Mais de 3 mil fotografias ficaram para recordar a sua curta passagem pela vida! Sentiam-se felizes por terem desfrutado do lento mas precioso desenvolvimento do seu bebé!
De sua casa nos U.S.A. participavam no programa. Falaram da sua experiência, mostraram fotografias e contaram da importante colaboração dum amigo que lhes permitiu fazer um vídeo de tributo ao seu filho, que inclui as cartas e as fotografias. Esperam em breve o nascimento de um irmãozinho para o Ben. Quando a apresentadora do programa manifestou a sua admiração pela coragem que eles mostraram e a tristeza que certamente sentiam enquanto preparavam aquele vídeo, a mãe dizia a sorrir: ”Posso ficar triste depois. Tenho muito tempo para chorar”.
Aqueles pais viveram cada momento de partilha com o seu menino, agradecendo a Deus os 99 dias em que tinham sido uma família feliz, apesar de todas as dificuldades que iam surgindo e sabendo o que o futuro lhes reservava. Os momentos difíceis ajudaram a crescer e a partilhá-los com todos aqueles que possam ter acesso ao vídeo. Eles souberam aproveitar cada dia da melhor maneira, sem estarem preocupados em viver o amanhã.
“Posso chorar depois”…Uma lição para todos nós!

sábado, 30 de maio de 2009

AMIZADES

“Um amigo nobre e bom, nunca nos será definitivamente roubado, porque deixará um rasto de luz nas nossas vidas”.
Todos nós temos amigos com quem partilhámos muitos momentos da vida. Os amigos da infância, que cresceram connosco, companheiros de brincadeiras, colegas de escola; amigos mais chegados, com quem trocámos confidências, de quem nos tornámos inseparáveis. Mas, a pouco e pouco, cada um foi dando novo rumo à sua vida , fomos perdendo o contacto e hoje fazem parte das nossas lembranças do passado. Mas, felizmente, ainda há aqueles a quem continuamos muito ligados, embora não os vejamos com frequência. Ouvimos a sua voz no telefone, trocamos mensagens e de tempos a tempos passamos alguns momentos juntos numa boa conversa. São as grandes amizades que permanecem intactas, não importa a distância que nos separe ou o tempo que podemos passar sem nos vermos.
Mas há aqueles amigos que, em qualquer circunstância, estão sempre ao nosso lado, amigos carinhosos , compreensivos, afáveis, com quem sabemos que podemos sempre contar. Tenho uma amiga muito querida, com 93 anos. A nossa amizade foi-se fortalecendo com o passar dos anos. Recordo com um misto de satisfação e saudade as nossas conversas , num espírito de abertura e cumplicidade, sempre mantidas num relacionamento de delicadeza e respeito mútuo. Hoje, a sua idade e saúde, não permitem passeios pela cidade, nem amenos diálogos à mesa do café, mas a nossa relação de amizade irá manter-se até que Deus queira!
“ O mundo parece muito vazio, se só pensarmos em montanhas, nos rios e cidades…, mas se há alguém, em algum lugar, que pense em nós e sinta como nós e que, apesar da distância, está perto em espírito, então a Terra converte-se num jardim habitado.” Goethe.

sábado, 23 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

TRABALHO. E A IDADE ?!

Recordo-me de há alguns anos ter ficado muito admirada quando soube que um amigo meu se tinha reformado com 48 anos. Achei que com aquela idade um homem está no auge das suas capacidades, com suficiente energia e maturidade, além da experiência e conhecimento que adquiriu na área onde exerceu a sua actividade profissional. Retirar-se do activo, não me pareceu uma boa opção. Fui-me dando conta que ele não era um caso isolado, tendo conhecimento que muitas outras pessoas, por iniciativa própria ou a convite da entidade patronal, entram na pré-reforma depois de acordos feitos entre ambas as partes. Tudo bem, cada um é livre para decidir o que acha mais conveniente para o seu futuro, sobretudo quando tem a possibilidade de escolher e se desejar continuar a estar activo encontra sempre que fazer.
Nestes tempos de crise que estamos a atravessar a realidade é outra. As pessoas perdem os empregos, mas precisam de continuar a trabalhar para poderem satisfazer os seus compromissos e fazer face às necessidades do dia-a-dia. Não se pode viver com o mínimo condições quando não se tem fontes de rendimento. Uma grande parte das pessoas que têm vindo a perder os seus empregos, à partida já sabem que lhes vai ser muito difícil, ou quase impossível, encontrar trabalho, porque têm mais de 40 anos… E, isto acontece, porque os empregadores, que precisam de estar atentos à competitividade do mercado, apostam no rejuvenescimento do seu pessoal. A idade passa a ser um impedimento e assim se vai desvalorizando o trabalho dos mais velhos…
Passo a transcrever um trecho de José António Saraiva , na revista TABU, de 05/07/08 que diz:

“ A atribuição de trabalhos a jovens é boa em muitos casos – como é boa a conservação em certos lugares de pessoas com alguma idade mas que deram provas de manter a juventude de espírito, o gosto pelo trabalho e a abertura à mudança.
Desprezar os jovens por serem inexperientes é mau – como mau é dispensar prematuramente os mais antigos por serem “demasiado” experientes.
Como em tudo na vida, a verdade raramente está num extremo – está, normalmente, no equilíbrio. Um equilíbrio sábio, em que se aproveite a sabedoria e maturidade dos mais velhos potenciada pela energia e pelo entusiasmo dos mais novos.
Mesmo na arte, não há regras. Não nos esqueçamos de que, se Mozart compôs o Requiem com 35 anos, Saramago escreveu os seus melhores livros depois dos 60. Todas as fases da vida têm forças e fraquezas. O segredo é tirar de cada uma o melhor rendimento.”

sábado, 2 de maio de 2009

DIA DA MÃE

Num pequenino livro com pensamentos dedicados às mães, eu encontrei este, que diz : “Tanta doçura a mãe encerra que Deus para ter mãe deixou o céu e desceu à terra”.
Para muitos, Maria é alguém que, pelo facto de ter sido escolhida por Deus para ser mãe do seu Filho, se tornou num ser divino a quem prestam culto, dirigem as suas preces e fazem promessas que vão até ao sacrifício. Para nós, crentes evangélicos, Maria foi escolhida por Deus para, através do poder do Espírito Santo, conceber e dar à luz o Seu filho, o Deus feito homem, que desceu à Terra para anunciar aos homens a Boa Nova da Salvação e dar a Sua vida em resgate pelos nossos pecados. Entre todas as virgens de Israel, Maria foi a eleita por Deus para ser mãe de Jesus, porque Ele encontrou nela virtudes que a tornavam diferente de todas as outras. Como todo o ser humano, Jesus tinha de nascer de uma mulher, tinha de ter uma mãe. Embora Ele fosse divino, a presença da mãe a Seu lado, o amor, o carinho que dela iria receber, não podiam ser dispensáveis, pois Jesus iria crescer como todas as crianças.
Alguém disse que “a mãe é o ser que prepara na sua própria carne a pessoa humana destinada à eternidade”: Tarefa importante a dela!
O que é para nós uma mãe? Qual é a imagem que temos da nossa mãe? E de nós, mulheres, que somos mães? Nestes últimos tempos eu faço constantemente avaliações à minha vida. Transporto-me ao passado, volto de novo a ser criança e jovem, lembro-me de situações que vivi e recordo com muita saudade a minha mãe e sinto que falhei algumas vezes como filha. Certamente que isto se passa com todos nós quando atingimos uma idade mais avançada e vemos a vida com outros olhos.
Quando os meus filhos eram crianças eu preocupava-me com o seu bem-estar, com a sua felicidade, mas hoje, os meus cuidados não diminuíram, parece até que aumentaram. Continuo a estar atenta, sofro com as suas tristezas e alegro-me com as suas alegrias . Embora eles já sejam independentes, com família constituída, a minha experiência de vida e também as transformações constantes que vou observando na sociedade em que vivemos, têm-me tornado mais sensível e mais receosa ao mesmo tempo. Mas qual é a mãe que não se preocupa com os filhos, mesmo quando eles já são homens e mulheres?!
Todos nós conhecemos mulheres que criaram sozinhas os seus filhos. Algumas tiveram a ajuda dos seus familiares, outras, para fazer face à vida, deixaram-nos em colégios onde permaneceram até serem jovens. Outras, viram-se obrigadas a entregar os filhos a outras pessoas, para que eles pudessem gozar dos cuidados que elas não lhes podiam dar, e assim foram-se quebrando muitas vezes os laços afectivos. Mas isso continua a acontecer nos nossos dias.
Há muitos anos conheci uma mulher que tinha um filho pequeno para criar, uma criança doente, que sofria de asma. Andava de casa em casa a buscar lavagem para os porcos que criava. Trabalhava também como empregada doméstica e, assim, iam sobrevivendo. Algum tempo depois, começou a trabalhar na nossa casa. Acompanhei de perto a sua labuta pela vida. Durante anos e anos, ela lavou chãos, lavou roupa, cozinhou nas casas onde trabalhava. Durante os meses de verão vendia bolos na praia. Calcorreava o areal duma ponta à outra, dobrada sob o peso dos baús, debaixo do calor e sol. Nunca lhe ouvi um queixume, uma palavra de revolta contra a vida que lhe era madrasta. Foi uma segunda mãe para os meus filhos, a quem tratou sempre por “meninos” (foi assim que tinha aprendido quando, em nova, começou a trabalhar…). Era uma pessoa muito educada. Nunca lhe ouvi uma palavra menos própria.
Passados anos, o filho estabeleceu-se em Lisboa, mas o negócio corria-lhe mal. “Ele nunca teve sorte, já nasceu sem ela…” dizia-me ela com amargura. E lá ia ela de quinze em quinze dias para Lisboa, tratar-lhe da roupa, cuidar da casa e escutar os seus desabafos, pois ele vivia só. Algum tempo depois mudou-se definitivamente para casa do filho. Um dia, falando com o Tó, como é conhecido, ele dizia-me: “Eu não tenho sido um bom filho, não lhe tenho dado a ajuda que ela precisa. A vida tem-me corrido mal e os problemas sucedem- se. Ela é que tem sido o meu amparo. Mesmo que não lhe queira falar das minhas dificuldades, ela adivinha-as e sofre muito com isso”. Lembro-me deste pensamento: “Ó mãe, perdoa-nos por não te termos dedicado o amor que mereces, tu, que vives exclusivamente para nós e por nós vais morrendo dia-a-dia”
A Senhora Lídia faleceu há perto de dois meses, já com os seus 90 anos. Sozinho, o filho cuidou dela até ao fim.
Mãe e filho, exemplos a registar numa sociedade tão falha de valores! Presto a minha singela homenagem a uma grande Mãe e a um bom Filho !
Quero deixar aqui um esclarecimento: Os cristãos evangélicos celebram há quase 100 anos o “Dia da Mãe” no 2º Domingo de Maio. Em 1912, numa comunidade evangélica da cidade de Filadélfia, nos USA, um grupo de jovens juntou-se para homenagear a mãe de Ana Jarvis, uma jovem que tinha perdido a sua mãe. Outras igrejas abraçaram a ideia e a 10 de Maio de 1913 realizou-se a primeira comemoração oficial do “Dia da Mãe” e no ano seguinte foi declarada a celebração deste dia em toda a América do Norte. Outras igrejas evangélicas ,pelo mundo fora, foram reservando esta mesma data para homenagear as suas mães, assim como também muitas igrejas católicas romanas. No nosso país os católicos romanos celebram este dia no 1º Domingo de Maio.

sábado, 18 de abril de 2009

Absolutamente fantástico e comovedor

Sarah Boyle - "I Had A Dream" - Britain Got Talent - 9 de Abril 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

PARA REFLECTIR

“Um facto: Portugal é um dos países do mundo que tem a população mais envelhecida. Outro facto: são cada vez mais os idosos abandonados pela família. Com a desumanização da sociedade, os pais são considerados um estorvo para muitos. Por isso se assiste durante as épocas do Natal e das férias a um dos actos mais hediondos dos tempos modernos. Filhos que abusam, por exemplo, na medicação dos pais para que estes se sintam mal e fiquem internados durante as festas. Diz muito de quem o faz …
Além desses períodos especiais, também durante os restantes dias do ano os progenitores, quando deixam de ser auto-suficientes, são abandonados. Quem pode financeiramente trata de os colocar num lar, não se preocupando com a qualidade do mesmo. Longe da vista, longe do coração. Já quem não tem dinheiro procura passar bem ao lado da casa onde cresceu e viveu toda a infância e onde continuam a viver os pais. É uma chatice, pensam. Acredito que muitos daqueles que têm tal comportamento terão um final idêntico. Se são esses valores que cultivam, hão-de colher da mesma semente.
Não perceber que a vida é um ciclo em que nascemos, crescemos e ficamos outra vez crianças é algo de aterrador. Tenho visitado diversos hospitais e fico sempre com um nó na garganta quando vejo tantos e tantos idosos abandonados pelos familiares. Pessoas que se sentem perdidas e para quem um pequeno gesto representa muito. É impressionante a alegria dos doentes quando aparecem as senhoras da bata amarela com um chá quente ou um pacote de bolachas. Nesta edição damos conta dom trabalho da equipa de Apoio Domiciliário 24 Horas da Misericórdia de Alhos Vedros, concelho da Moita. Alguns são autênticos heróis no serviço que prestam. Sete vezes por dia, os idosos acamados são visitados, sendo-lhes trocadas as fraldas e dada comida. Haverá quem o faça por dinheiro, mas há seguramente mentes brilhantes nesse campo.”
(da Revista “TABU”, de 28.03.09, Vitor Rainho)

sábado, 28 de março de 2009

DEIXAR VIVER

No meu blog do dia 14 de Julho falei duma senhora amiga , já idosa, que recusa qualquer tipo de ajuda que as amigas lhe querem prestar. Continuamos a chamar-lhe a atenção para que ela procure viver com mais qualidade de vida, sair da solidão a que chegou abrindo-se ao convívio com as pessoas. A sua saúde tem vindo a debilitar-se, consequência duma doença oncológica que ela se recusa tratar. A televisão, que era a sua distracção e companhia, o Inverno rigoroso partiu a antena do telhado e deixou de funcionar. O cabelo cai-lhe enfraquecido nos ombros, mas não vai cortá-lo. Passou a receber há alguns anos o apoio duma instituição de solidariedade que lhe fornece o almoço e lhe poderia também tratar da limpeza da casa e da lavagem da roupa, mas recusou. Estes e muitos outros problemas, que não interessa aqui mencionar, deixam-nos tristes e preocupadas. De novo procurámos ajuda junto dos serviços de saúde. Esta semana foi visitada por um funcionário da Delegação de Saúde e uma enfermeira do Centro de Saúde, que lhe chamaram a atenção para a necessidade urgente de ir ao médico, de cuidar da sua higiene e da limpeza da casa, mas ela mostrou-se peremptória na recusa de qualquer ajuda, manifestando descontentamento pela ingerência na sua vida. Disse-lhes que tem amigas que a visitam e a aconselham ( mas só a muito poucas ela franqueia a porta para uma curta visita, mesmo que estas sejam esporádicas …). E não podem ser tomadas outras medidas porque ela está ainda no pleno gozo das suas faculdades. É o que nos dizem.
Está, pois, afastada a hipótese de continuarmos a criar expectativas na melhoria da qualidade de vida desta nossa amiga, embora elas fossem cada vez menos. Iremos continuar a visitá-la e deixar que as nossas palavras lhe levem algum consolo e a reanimem, porque, como ela diz “Eu não sou feliz e nem sei o que me poderia fazer feliz…”
Foi-nos dito que, se o seu estado de saúde piorar, basta contactar a sua médica de família que ela logo lhe prestará os cuidados necessários. É muito bom saber que podemos contar com a sua ajuda.
Pelo que nos informaram, há muitas pessoas que vivem em piores condições e não têm quem se preocupe com elas. Porém, a nossa amiga pode contar connosco, assim ela o deseje.
Deixo aqui duas estrofes dum cântico que ela gosta muito:

Com Tua mão, segura bem a minha,
Pois eu tão frágil sou, ó Salvador.
Que não me atrevo a dar nem um só passo,
Sem Teu amparo, meu Jesus Senhor!

Com Tua mão, segura bem a minha,
E pelo mundo alegre seguirei;
Mesmo onde as sombras caem mais escuras,
Teu rosto vendo, nada temerei !

sábado, 7 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Foi a 8 de Março de 1857 que as operárias de uma fábrica têxtil em Nova Iorque iniciaram, com manifestações de protesto, a sua luta pela redução do horário de trabalho e melhoria de salários. Em 1910, com a participação de pessoas de alguns países da Europa, foi decretado o Dia Internacional de Trabalho e, mais tarde, a Organização das Nações Unidas oficializou o ano 1975 como o Ano Internacional da Mulher.
De então para cá muitas mulheres em diferentes áreas têm lutado para que a mulher tenha um papel mais activo num mundo dominado pelos homens. Existem leis que protegem a mulher, concedendo-lhes direitos e igualdade de oportunidades, mas o facto é que ocorrem ainda descriminações tanto a nível social, como nos locais de trabalho e na família. Ultimamente, por exemplo, têm-nos chegado notícias do aumento da violência doméstica e sabemos também da prioridade dada aos homens em algumas empresas pela desvantagem que vêem na contratação de mulheres grávidas com a perspectiva de faltas ao trabalho para assistência aos filhos. Há ainda a ideia da fragilidade das mulheres e da sua maior sensibilidade em campos onde a força e a frieza são exigidas. Mas as mulheres são bons exemplos da duplicidade de funções, trabalhando fora de casa e cuidando da família, corajosas quando enfrentam situações difíceis, com capacidades indiscutíveis na sua entrega às causas que defendem, reconhecidas nas funções que desempenham pelos seus méritos e tantas coisas mais que as caracterizam.
Temos também a política, onde os homens levam a vantagem. A propósito, já tenho pensado muitas vezes como resultaria a experiência de um país governado só por mulheres, o nosso, por exemplo. Há uma certa tendência , falo em excepções, claro, de algumas mulheres em cargos de liderança, se tornarem frias e abusarem dos poderes que lhes são conferidos, talvez como forma de vincarem a sua posição de minoria. Tenho a certeza que, no Parlamento, o ambiente seria de agitação constante, cada membro a intervir sem esperar pela sua vez e a presidente da Assembleia de mãos na cabeça, sem conseguir fazer-se ouvir. Isto com mais alguns pequenos itens à mistura…Mas, como da discussão nasce a luz, os resultados iriam surpreender os portugueses. Quem sabe se teríamos leis mais favoráveis ao desenvolvimento do país e às condições de vida dos cidadãos. Posso já imaginar os gritos da multidão: “Mulheres à frente, o povo está contente”!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O COMÉRCIO TRADICIONAL

Normalmente quando ando pela cidade há determinadas ruas que fazem parte do meu percurso habitual e que, por sinal, são aquelas onde mais se concentram as pequenas lojas que constituem o comércio local. Algumas já vieram substituir outras mais antigas, embora haja ainda algumas , pertencentes a comerciantes já idosos, que com amabilidade e respeito se empenham em bem servir os seus clientes. O movimento que tinham, especialmente no verão, com a vinda dos turistas espanhóis , por exemplo, é muito reduzido, mas muitas pessoas ainda sabem onde se dirigir quando procuram determinados artigos de referência dessas lojas.
Os tempos mudaram e a moda é actualizada em cada estação, no que se refere ao vestuário, com as novidades ditadas pelas grandes marcas e copiadas com algumas modificações e qualidade dos materiais. Mas o mercado está fraco e é com tristeza que eu passo e vejo as lojas desertas e nem mesmo as inevitáveis compras de Natal lhes trazem o movimento que, há muitos anos atrás, obrigava o pessoal a andar numa roda viva, atendendo cliente atrás de cliente. Acontece que as preferências pessoais foram mudando e substituídas por escolhas mais acessíveis em termos de custos, que, conjugadas com os novos padrões da moda, foi levando os interessados a procurarem as grandes superfícies, onde a diversidade é referência e permite uma maior possibilidade de escolha. Depois, isto falando em termos locais, o mercado chinês invadiu a nossa cidade. Se eu não estou em erro, há, pelo menos, 11 lojas chinesas, algumas bem perto umas das outras, abertas todos os dias do ano, salvo uma ou outra excepção. E uma coisa é certa, elas vieram para ficar e têm todo o direito de se expandirem, até porque gozam de vantagens derivadas de acordos feitos entre o seu governo e o nosso. Oferecem uma diversidade de produtos que vendem a preços mais vantajosos, embora a qualidade seja uma desvantagem. Mas estou quase certa que estas lojas não conseguem escoar a mercadoria que vão acumulando nos corredores e prateleiras.
Quando vejo uma loja nova fico apreensiva e chego a pensar que não foi uma boa opção do seu proprietário. Porque o que normalmente acontece é não conseguirem manter-se abertas por muito tempo. Houve investimento, competitividade na oferta, mas o consumidor , ou por indiferença ou pela necessidade de cada vez mais moderar as suas despesas e procurar mercados alternativos, não ajuda a que se mantenha o negócio.
As pequenas lojas a que nos acostumámos parecem ter os dias contados. Li num semanário que “no comércio tradicional, por cada loja que abre, fecham cinco”. Prevê-se que “30 mil pessoas podem perder o emprego devido ao fecho de lojas, que deverá agravar-se este ano” (SOL, 24.01.09). Não é uma situação nova, ela tem vindo a agravar-se de ano para ano, salvo raras excepções, que sempre as há, e não se vêem perspectivas de um retorno aos tempos áureos do comércio tradicional. Cada dia se vão criando novas formas de mercado competitivo. E as pessoas que hoje correm para as grande superfícies, onde se habituaram a fazer as suas compras, amanhã, quem sabe, não irão dar preferência às lojas tradicionais , porque fizeram do seu estilo a sua referência e apostaram na qualidade da sua mercadoria? O desafio e a esperança num futuro melhor podem servir de estímulo a uma nova era do comércio tradicional!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Está bem...façamos de conta

"Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos".

Mário Crespo, JN

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"OS JORNALISTAS RELATAM A VERDADE ?"

Numa das suas habituais crónicas na Revista TABU, José António Saraiva debruçou-se sobre a actividade jornalística e todo um conjunto de explicações que justificam, hoje em dia, as notícias que chegam ao público. Pela minha parte e com todo o respeito que me merecem, eu classifico os jornalistas, de um modo geral, como “criadores de notícias”, e que me levam muitas vezes a pôr em dúvida a veracidade das mesmas. Interrogo-me se haverá necessidade de dar tanto ênfase a situações que ridicularizam e chegam até a pôr em causa a honorabilidade das pessoas atingidas. Os comentários de José António Saraiva ajudam-nos a compreender as razões que explicam a manipulação da realidade.

“Podemos ou não acreditar nos jornais? Podemos ou não confiar nos jornalistas? O que os jornais dizem reflecte ou não reflecte fielmente a realidade?
Nunca haverá consenso sobre estas questões.
Os políticos dizem-se invariavelmente prejudicados pelo que os jornais, as rádios e as televisões escrevem ou dizem. E, em geral, quem é objecto de notícias ou comentários na imprensa considera-se injustiçado. É muito raro ouvir alguém concordar com uma notícia ou um comentário a seu respeito. Há sempre uma correcção a fazer, uma objecção a colocar, qualquer coisa que está a mais ou a menos.

“O que verdadeiramente importa – e sobre isso fala-se estranhamente muito pouco – é o seguinte: os meios de comunicação social, pela sua própria natureza, darão sempre uma imagem errada, distorcida, da realidade.
A realidade e o modo como os “media” a reflectem serão sempre duas coisas distintas.
Porquê?
Porque aos “media” não interessa a regra – interessa a excepção. Aquilo que é banal, que é rotineiro, não é notícia: a notícia é o que surpreende, o que escapa à rotina.
Ora a realidade faz-se da regra e não da excepção, do que é comum e não do que é incomum.”

“ Mas quantas “realidades” muito longe da realidade, feitas de excepções, de situações incomuns, os jornais, as rádios e os canais de televisão não constroem a toda a hora?”

“Assim, quando se diz que os “media” não reflectem a realidade, tal é inteiramente verdade só que não tem que ver, necessariamente, com a maior ou menor seriedade dos jornalistas. Tem que ver com a própria natureza dos “media”.
Se o que é notícia é a excepção, é a anormalidade, é o que é invulgar, como podem os “media” reflectir fielmente a realidade?”

“Ao seleccionar só o que é anormal, a imprensa, a rádio e a televisão dão uma imagem falsa da realidade.
Claro que a competição na área mediática, que hoje é brutal, agrava esta tendência.
Hoje os jornalistas procuram as notícias com mais sofreguidão, escrevem-nas com mais colorido, titulam-nas com mais agressividade – porque é essa capacidade de causar surpresa que vai marcar a diferença.
No impacto que as notícias possam causar está hoje muitas vezes o segredo do sucesso ou insucesso de um dado meio de comunicação.
E, portanto, é muito tentador para um jornalista sacrificar a verdade para não perder uma boa história.
Mas, repito: o importante é perceber que a distorção da realidade está na própria natureza dos “media”.


sábado, 17 de janeiro de 2009

SALÁRIOS, ATÉ QUANTO ?

No programa Fórum, transmitido durante a semana na rádio TSF, os ouvintes são convidados a participar, fazendo os seus comentários, sobre um tema da actualidade. Na semana passada, após a confirmação da entrada em recessão do nosso país, um dos participantes, depois de várias considerações sobre o que deveria ser feito para atenuar a crise, propunha que não fossem atribuídos salários superiores ao do Presidente da República. Posso imaginar, se isso fosse realmente estabelecido, qual seria a reacção dos gestores de algumas empresas públicas , que auferem salários exorbitantes, alguns beneficiando já de boas reformas e a acrescentar ainda as regalias dum carro à disposição, cartão de crédito, subsídios generosos quando se deslocam em serviço além de outros que nos escapam. Tudo isto totalizará uma quantia que ultrapassa em muito o salário atribuído ao chefe da nação. Certamente que ao serem concedidos esses cargos foram tidas em atenção o nível das suas qualificações académicas, as provas já dadas das suas capacidades de trabalho e a esperança de poderem vir a ser uns bons profissionais. Mas será que isso obriga a que lhes sejam pagas remunerações tão elevadas?!
É de considerar também os enormes salários que alguns jogadores de futebol recebem, especialmente os que jogam em grandes clubes do país, pois constituem uma afronta para todos aqueles que têm de trabalhar toda a vida para conseguirem uma reforma que lhes dê alguma segurança na velhice, e mais ainda, para aqueles que nem isso conseguem … E isto, não tendo em conta os prémios, as campanhas publicitárias que fazem, etc. etc. E estes ganhos são justificados alegando-se que são obrigados a deixarem os relvados muito cedo. Tenho imensa pena deles !!! E o dinheiro que investem, os negócios em que se envolvem, as quantias que depositam nos bancos, não lhes garantem um futuro confortável, continuando a manter o nível de vida a que se habituaram? Só se foram perdulários e gastaram sem pensar no dia de amanhã.
O abrandamento da economia, que se tornou numa crise global, vai levar ao encerramento de mais empresas e, consequentemente, ao despedimento dos seus trabalhadores ou à redução de postos de trabalho. E o enorme fosso entre ricos e pobres, que já se verificava no nosso país, vai aumentar e agravar as situações de pobreza que a pouco e pouco irão surgindo, afectando uma boa parte da nossa população.
Há sempre um conjunto de razões que irão justificar a existência da pobreza no mundo, nos seus variados escalões. Nem todos têm capacidade para orientar as sua vidas, outros, as adversidades fazem-lhes perder a vontade de lutar, e quantos não levam uma vida de trabalho árduo e nunca conseguem os meios para poderem viver com dignidade. E há aqueles que se recusam a trabalhar e, a pouco e pouco, as suas vidas vão-se degradando. Mas agora estamos perante uma nova pobreza, que são todos aqueles que, de um momento para o outro, perderam os seus empregos e vêem as suas vidas destroçadas pela incapacidade de poderem continuar a fazer face aos seus compromissos e a sentirem que se tornam poucas as possibilidades de voltarem a ter um trabalho estável. Em princípio, terão direito ao subsídio de desemprego, ao rendimento mínimo, mas só por um período de tempo. E depois, se não conseguirem voltar a equilibrar as suas vidas, que perspectivas podem ter para o futuro, que reforma receberão na velhice? Entretanto, aqueles que recebem os tais salários milionários, continuarão a viver desafogadamente, com ostentação até, e sem preocupações no futuro.
Li há momentos na Revista Visão desta semana, que os inquiridos da primeira sondagem do projecto “Nós, Portugueses” dizem que um salário de 5000 euros é de milionário; um de 560 euros marca a fronteira da pobreza. Qual é a reforma mínima em Portugal? Quantos já estão no limite da pobreza? E quantos mais a atingirão? Quem vai ajudar a resolver esta situação? O Estado, que atribui grandes salários aos seus gerentes? Tantas interrogações para tão poucas certezas…


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Os Pequenos Ditadores

Carta da Semana
Expresso

domingo, 28 de dezembro de 2008

A ESPERANÇA NUM MUNDO MELHOR

Num mundo tão perturbado e tendo consciência que me ultrapassam muitas das cruéis realidades que afligem a humanidade, o futuro deixa-me muito inquieta. É sempre muito difícil conseguirmos avaliar as situações quando não as vivemos, mas por tudo o que nos é transmitido pelos órgãos de comunicação, nós sabemos que os tempos que atravessamos não são os melhores e irão deixar marcas bem profundas na História da humanidade. Apesar de todo o mal-estar que se vai avolumando com todas as notícias que nos chegam e que não excluem o nosso país, há sempre a esperança que os acontecimentos que se prevêem tenham um desfecho diferente daquele que se imagina. E se cada um de nós contribuir para amenizar as tensões que se criam no pequeno mundo onde nos movemos? Se o fizermos já estamos a ajudar na construção duma sociedade melhor. Procurando viver em paz com aqueles que nos rodeiam, lutando contra as injustiças que teimam em oprimir os mais fracos, manifestando a nossa solidariedade com os desprotegidos, numa palavra, amando o nosso próximo como a nós mesmos. Como este mundo poderia ser diferente se cada homem olhasse o outro como seu irmão e Deus como seu Senhor!
Oxalá, ao contrário do que a actual situação nos deixa antever, o ano de 2009 nos surpreenda com um melhor relacionamento entre as nações, o baixar das armas, o empenhamento profundo de todos aqueles que têm o poder nas suas mãos, para que todo o ser humano possa viver com a dignidade a que tem direito, o cuidado colectivo na preservação do nosso planeta. Que todos possam dar as mãos e trabalhar para que neste mundo nos possamos sentir felizes!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A SOLIDÃO

Ouvi de alguém estas palavras “As pessoas sentem-se solitárias porque constroem paredes em vez de túneis”. Mesmo quando não se quer admitir que nos sentimos sós, deixamos sempre escapar um ou outro desabafo que alguém mais atento compreenderá que afinal não nos é assim tão fácil conviver com a solidão. Posso referir, particularmente, aqueles que vivem sozinhos , independentemente da sua classe social, por opção ou imprevistos da vida, como um divórcio, a morte de familiares ou, por exemplo, os filhos que deixam a casa para seguirem as suas carreiras profissionais ou constituírem família. Entre estas pessoas estão também os mais idosos, que para combater a solidão recorrem aos centros de dia, regressando só ao final da tarde, ou aqueles que, por decisão própria, vão para os lares da terceira idade para se sentirem mais acompanhados. Que dizer, então, de crianças, adolescentes e jovens, que se sentem sós, embora tenham a companhia dos seus colegas de estudo e em casa uma família que os apoia? E os mais velhos, com família constituída e uma vida activa? Será que não há momentos em que se sentem solitários? Porque podemos ter um mundo de pessoas à nossa volta e no entanto sentirmo-nos sós! Penso que muitos de nós já vivemos essa experiência, conseguindo até passar a imagem de sermos pessoas fortes, sempre de bem com a vida e até com pouco tempo disponível, para termos alguns momentos só nós! Seja qual for a nossa idade, ou pela nossa dificuldade em comunicar com os outros ou pela pouca disponibilidade de tempo para conviver, a verdade é que muitas vezes nos sentimos sós.
Lembro-me de uma amiga que, com muita dificuldade e até má vontade, aceita a visita dos que lhe querem amenizar a solidão. São situações difíceis, porque estas pessoas , a pouco e pouco foram-se isolando, perdendo hábitos sociais e não só, e as visitas deixam de ser bem vindas. São as tais paredes que se vão construindo e que se transformam em barreiras difíceis de derrubar. Mas, um telefonema que se atende, a porta que se abre a um amigo e um passeio numa tarde soalheira, são pequenas brechas que se vão abrindo e que podem levar aos tais túneis, que irão conduzir ao mundo do qual se foi fugindo, por vontade própria ou pelas circunstâncias que a vida impôs. No pouco tempo que estou com a minha amiga, aconselho-a a sair de casa para passear, conviver com outras pessoas e não estar sempre sozinha, como acontece já há vários anos. E ela responde-me com estas palavras: “ Eu não estou sozinha, o Senhor está sempre comigo, Ele não me desamparará.”
No Salmo 23 encontramos estas palavras reconfortantes e das quais tantas vezes nos esquecemos : “O Senhor é o meu pastor : Nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida : e habitarei na casa do Senhor por longos dias”.








sexta-feira, 28 de novembro de 2008

UMA VIAGEM DE COMBOIO

Numa das Revistas TABU do mês de Novembro, Vítor Rainho escreveu que “O conceito de viagem tem vindo a mudar com as alterações das políticas das companhias aéreas. Há uns anos, andar de avião era algo que as classes mais desfavorecidas, regra geral, só conseguiam visualizar em sonhos. Mesmo longas distâncias eram percorridas de comboio ou autocarro.”
Lembrei-me da primeira viagem que fiz de comboio, sozinha, para além fronteiras. Fui convidada para participar num campo internacional de trabalho numa pequena localidade da Alemanha, Nordkichen, na região da Westfália. Era jovem. Posso considerar que, naquele tempo, foi uma aventura e ainda hoje me admiro da minha coragem, até porque pouco tinha viajado dentro do nosso país. Apesar das supostas dificuldades que poderia encontrar, no dia 4 de Agosto, as 8.40 horas, parti rumo ao desconhecido, sem receios, disposta a aproveitar todas as experiências que iria viver a dois mil e tal quilómetros de casa.
Naquela viagem registei no meu diário: “ Entrámos em Espanha às 5 horas da tarde. Fiquei desiludida com este país, nosso vizinho. Desde o aspecto descuidado dos homens das estações, com as suas fardas dum verde desbotado, grandes demais, às casas cor de terra, os terrenos incultos, tudo com um ar de abandono. Não me podia mexer para não incomodar o meu companheiro do lado que dormia. Passámos a noite a atravessar a Espanha, no comboio que parecia não andar a mais de 10 km à hora. Quando se fez dia, vi uma Espanha diferente. A paisagem era linda, muito verde, e já podíamos ver os Pirinéus, com a sua beleza imponente, parecendo que a qualquer momento se poderiam despenhar sobre o pequeno comboio que nos levava. Passámos muitos túneis. Tomei o pequeno almoço no comboio. Que grande desilusão!... Serviram-me um café que, talvez, nem um quilo de açúcar o conseguisse adoçar, e um “croissant” pouco saboroso. Paguei 22,5 pesetas, ou sejam, 13.50 escudos. Chegámos a Hendaye às 11.30 horas. Depois de muitas voltas, sempre com as malas na mão, fomos à alfândega , mas a mim não me abriram as malas, felizmente! Ás 2,43 horas da tarde tomei outro comboio directo para Paris, moderno e confortável. Achei a França muito bonita com a sua vegetação luxuriante e salpicada aqui e além com as tendas dos campistas. Chegámos a Paris ás 23,30 horas. Passei a noite num hotel. No dia seguinte passeei pelos “boulevards” daquela linda cidade, sempre de mapa na mão para não me perder. Parti às 11,00 horas da noite da Gare do Norte rumo à Alemanha. Cheguei a Dortmund às 11,00 da manhã e apanhei outro comboio que me deixou em Nordkichen, onde me esperava o dirigente do campo de trabalho. A minha viagem terminou perto do meio-dia no dia 7 de Agosto. Até que enfim!”
Voltei a fazer outras viagens de comboio que deixavam sempre histórias para contar. Muitos anos depois, fiz duas viagens de autocarro, uma para a Suiça e outra para a Alemanha, que não me deixaram vontade de repetir a proeza.
Aquela longa primeira viagem para a Alemanha, que demorou 46 horas de comboio, fora as mudanças que tive de fazer e o tempo que esperei nas estações e em Paris, resumem-se hoje acerca de 3 horas de avião.
Agora, viajar nos comboios de alta velocidade, as grandes distâncias fazem-se em poucas horas. O conforto que oferecem aos passageiros tornam as viagens muito agradáveis. Sentimo-nos mais à vontade, podemo-nos levantar e esticar as pernas, ir até ao bar, enfim, um conjunto de mordomias que nos são proporcionadas. Mas viajar de avião, além do tempo que poupamos e embora não nos sintamos muito confortáveis, também tem os seus encantos. Há dois anos, num voo nocturno, apreciei o nascer do sol. Não tenho palavras para descrever o que senti, foi maravilhoso !!
E Vitor Rainho termina com estas palavras: “Como todos os fenómenos de moda à medida que se vão alastrando vão morrendo na origem, viajar de avião, hoje, não tem qualquer carga glamorosa, nem tão pouco representa estatuto. Os lugares são mais apertados, o serviço é quase inexistente e, como tal, fantástico é andar de avião particular.”
Isso agora já se torna mais difícil…Vamo-nos contentando com uma viagem comprada na ”net” que a vida não está para grandes aventuras.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

O QUE FARIA ...

Gosto muito de ver os programas da Oprah, na SIC Mulher. Alguns para nós não têm muito interesse, pois são mais dirigidos ao público americano, mas outros apontam casos, falam de assuntos que pela sua natureza e pelas experiências vividas por aqueles que são convidados para o programa, são realidades também da nossa sociedade. Considero a Oprah uma boa apresentadora, que vai ao âmago dos problemas, muito directa nas suas considerações, impelindo aqueles que entrevista a respostas bem concretas e decisivas.
Há uns dias atrás, o programa tinha o tema “O que faria…” Não o vi desde o início, mas o que estava em causa era o que faríamos, qual seriam as nossas reacções, se estivéssemos perante determinadas circunstâncias. Era um programa semelhante aos “Apanhados”, que todos nós conhecemos da nossa televisão. Havia actores que criavam cenas na rua, que pediam a interferência de alguém para ajudar a resolver as situações. Por exemplo: Um homem enfurecido, ofendia oralmente a mulher, ambos pessoas de cor. A maior parte das pessoas olhava, mas continuava o seu caminho, indiferente ao que via. Um homem, muito aborrecido, gritou-lhes que fossem para casa discutir, mas que não estivessem ali a incomodar quem passava. Até que, uma mulher já idosa, aproximou-se da vítima e, carinhosamente, levou-a consigo. Um outro caso, mostrava uma mãe, ainda jovem com duas crianças, seus filhos, alcoolizada e que, em grande aparato, procurava as chaves do carro que não conseguia encontrar. Depois, já com elas na mão, sempre aos tombos, mandava os filhos entrar para o carro e preparava-se para conduzir. Houve uma certa contestação por parte de quem se tinha juntado, até que um homem já idoso, tira-lhe as chaves da mão, impedindo-a de conduzir num tal estado de embriaguez. Um terceiro caso, passa-se numa padaria, onde uma mulher islâmica, que queria comprar pão, é injuriada pelo empregado que se recusa a atendê-la. A fila dos que aguardam pela sua vez vai crescendo assim como o mal-estar que se apodera das pessoas pelo tempo que estão a perder. Mas há duas jovens, de 15 e 16 anos, que, perante tal situação, reagem à atitude do empregado, manifestando a sua discordância e revolta. O dono da loja foi chamado por elas e resolveu a situação, vendendo o pão que a mulher desejava.
Estes três exemplos mostram-nos que vivemos numa sociedade onde, muitas vezes, impera a indiferença. Vivemos os dias numa correria constante, preocupados e ansiosos, sem prestarmos atenção àqueles com quem nos cruzamos, que vivem perto de nós e, em alguns casos, até são nossos familiares. Penso que, talvez, não se trata tanto de indiferença, de insensibilidade, mas antes do peso que transportamos sobre nós com todas as pressões que a vida nos impõe. Nas grandes cidades, por exemplo, se estivermos atentos, veremos, especialmente em horas de ponta, as pessoas caminhando apressadas, de olhos no chão, receosas de perder os transportes, pensando nas tarefas que ainda as esperam em casa, o desejo de chegar ao aconchego do seu lar…O pensamento está longe. Mas há também em nós uma certa cobardia e comodismo, o receio de nos envolvermos nos problemas dos outros, de, perante certas situações, temermos que alguma coisa corra mal. Muitas vezes, olhamos de soslaio e continuamos o nosso caminho. Mas, graças a Deus, ainda há aqueles que se esforçam por intervir em situações que mexem com a sua sensibilidade e os seus valores. Cada vez mais nós assistimos a casos de injustiça, de desumanidade, de falta de amor, que nos perturbam e que nos deixam muito tristes. Nós precisamos de ser solidários, não permitirmos que a indiferença controle os nossos sentimentos e nos impeça de olhar os outros como irmãos.
Relembro uma frase que ouvi no final do programa da Oprah; “Não é o ódio que mata as pessoas, mas sim a indiferença”.

sábado, 25 de outubro de 2008

TRABALHAR EM EQUIPA

Sou fã do programa da SIC Mulher, “Querido mudei a casa”. Um dia, encho-me de coragem e candidato-me também. Mas a distância conta muito, os pedidos, calculo, são imensos e as escolhas devem obedecer a determinadas regras e, com tudo isto, as minhas possibilidades são mínimas ou praticamente nulas…
Há poucas semanas atrás, o “Querido” foi renovar uma cozinha na zona de Lisboa. A família era constituída pelos pais e dois filhos adolescentes. A mãe cozinhava para fora. Foram os filhos, com a ajuda do pai, que escreveram a candidatarem-se para a transformação da cozinha, que não reunia, como pudemos ver, as condições necessárias e desejáveis. Depois de dois dias e muitas horas durante a noite de um trabalho incessante, foi com muita alegria e emoção que a família foi surpreendida com uma nova cozinha, muito bem equipada, funcional e bem decorada, ultrapassando todas as expectativas da família. E era a própria mãe que dizia, chorando, que era muito difícil para os espectadores poderem avaliar aquela cozinha, que estava muito linda! Confesso que, quando o programa terminou, eu fui dar uma olhadela à minha cozinha, suspirando pela visita do “Querido”!
Quando vejo este programa, admiro a maneira como aquela equipa trabalha, desde a apresentadora, passando pelos decoradores e restantes trabalhadores, incluindo também os técnicos da televisão.
Posso ver, pelo menos é essa a minha impressão, a camaradagem e o espírito de equipa que ali existe. A preocupação de todos é dar tudo por tudo para que o projecto, que têm para aquele espaço, seja conseguido e realizado dentro do prazo estipulado. Os decoradores, por vezes, têm de fazer alterações ao projecto que tinham criado, porque aqueles que com eles trabalham se deparam com situações inesperadas, difíceis de ultrapassar em apenas dois dias, e são eles próprios que sugerem alternativas. Cada um tem de cumprir a sua tarefa, é por ela que é responsabilizado, mas quando o trabalho aperta, todos partilham do sentimento de reunir esforços e ajudar no que for preciso para concluir o projecto, surpreender os concorrentes e o programa possa ser transmitido. Infelizmente, nem sempre isso se passa no mundo do trabalho. Há muito a ideia de cada um fazer somente o trabalho que lhe compete. É normal o trabalhador ocupar um determinado lugar segundo as suas capacidades e qualificações. E por ocuparem esses cargos são responsabilizados e remunerados. É esperado que saibam trabalhar em equipa para que daí resulte um bom ambiente de trabalho e a empresa ou instituição atinja os seus objectivos. Porém, trabalhar em equipa exige capacidade de partilha nas mais variadas situações. Se o meu colega tem muito trabalho e eu tenho disponibilidade, eu devo tentar dar uma ajuda. Surge uma situação inesperada e a pessoa responsável não está no momento, se posso, procuro resolver o problema e muitos outros casos poderiam ser apontados. Criar barreiras, mostrar atitudes de indiferença, não valorizam as pessoas e só prejudicam as relações e reflectem-se na boa imagem que devemos dar como profissionais. Criam instabilidade e acabam por ter repercussões na prestação dos bons serviços que as entidades empregadoras se empenharam para poderem ter sucesso. No final, acabam por nem uns nem outros saírem beneficiados.